O caso do médico Rafael Macedo é digno de manual clínico. A história começa com um diagnóstico simples: o doente — perdão, o sistema — apresentava sinais de corrupção, inflamação burocrática e uma infeção crónica de interesses privados. O Dr. Macedo, na sua inocência clínica, decidiu receitar… a verdade.
Mau remédio.
No instante seguinte, foi-lhe aplicada a terapêutica clássica da política insular: cirurgia radical à carreira, quimioterapia social à reputação, e isolamento profilático das funções que exercia. Não se tratava de salvar o doente, mas sim de garantir que o médico não voltava a “contaminar” o sistema com transparência, rigor e clareza.
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| Vaticínio da Imprensa. |
Depois vieram os exames complementares de diagnóstico judicial. Resultado? “Negativo para crime”. Ou seja, o homem estava limpo, pelo menos no boletim clínico criminal. Só que, entretanto, o corpo profissional já tinha sofrido necrose irreversível: nome na lama, contactos apodrecidos, e um prognóstico vital reservado para a carreira.
Na Madeira, confundir a ética com a prática política é como confundir um estetoscópio com um garrote: ambos apertam, mas um salva e o outro asfixia. E, quem tenta auscultar a verdade acaba internado… no corredor do esquecimento.
Moral final? O Dr. Macedo foi absolvido, mas a justiça, essa, ficou em coma induzido.
Mas a medicina ensina que o corpo tem uma incrível capacidade de regeneração. E, por vezes, até sistemas doentes recuperam, não por vontade própria, mas porque a coragem de um só médico inspira outros a tratar a causa, e não apenas os sintomas. Quem sabe se um dia, a ilha não descubra que a verdade, embora dolorosa, é o único antibiótico que cura de vez.

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