Sondagens na Madeira, um instrumento de campanha eleitoral.


A sondagem como ponto de viragem na campanha eleitoral

N um momento crucial de uma campanha eleitoral, a publicação de uma sondagem pode funcionar como um verdadeiro momento de quebra ou um "reset" de toda a informação e mensagem veiculada pelos partidos até então. Deixa de ser apenas um instantâneo do estado da opinião, sobretudo com amostras baixas e métodos suspeitos, torna-se um factor de manipulação com o potencial de alterar as próprias intenções de voto.

Este fenómeno assenta em grande parte no que é conhecido como o efeito bandwagon (efeito "saltar para o carro" ou "votar no que ganha"). Muitos eleitores, mais do que votarem com base em ideais ou propostas, sentem-se compelidos a juntar-se ao lado que parece ser o vencedor inevitável.

A sondagem, ao declarar um favorito com aparente autoridade científica, capitaliza esta tendência psicológica. O eleitor não quer "desperdiçar" o seu voto num partido que as sondagens já deram como perdedor, preferindo alinhar-se com o potencial vencedor para ter uma participação no sucesso.

O poder da quebra e o "reset" da mensagem

Neste cenário, a sondagem não é um mero reflexo, mas sim uma ferramenta de intervenção. Toda a mensagem cuidadosamente construída pela campanha, os debates, os comícios, os programas eleitorais, as promessas, podem ser subitamente ofuscadas e postas em causa. O eleitor, antes a ponderar entre diferentes méritos, passa a ponderar apenas a probabilidade de vitória. A narrativa muda de "quem tem o melhor plano?" para "quem vai ganhar?".

Quando se verifica uma influência clara de um partido político no panorama jornalístico, a divulgação destas sondagens (e a forma como são enquadradas) adquire um potencial ainda mais nefasto. O jornalismo, que deveria atuar como árbitro e fiscalizador, pode inadvertidamente (ou deliberadamente) transformar-se num veículo de promoção... até porque têm que apresentar resultados para valer a pena um subsídio... que foi aumentado. A forma como os dados são apresentados, a manchete, o destaque, a repetição constante dos números do partido em ascensão, serve para legitimar a vitória antes das urnas abrirem. Preparam caminho... convencendo eleitores fragilizados.

Se um partido com forte influência na comunicação social conseguir usar a sondagem para projetar uma imagem de vitória garantida, está a dar um golpe de misericórdia nas intenções de voto. A sondagem, nesse contexto, é a alavanca que anula a mensagem da oposição e força um "reset" psicológico no eleitor, reorientando os votos para dar a vitória ao partido "favorito", num ciclo que se auto-alimenta entre a notícia, a perceção e a urna.

Assim, a sondagem que deixa muitos eleitores incrédulos, acerta pelo arrastamento da própria sondagem.

As sondagens deveriam ser proibidas.