As conquistas sociais que não podem ser esquecidas.
N ão existe socialismo na Europa. O que persiste é uma ténue social-democracia, diluída e cada vez mais tímida. Aquilo a que chamamos “socialismo” são, na verdade, fragmentos de justiça — políticas concretas que, entre avanços e recuos, equilibram o peso da riqueza e o fardo do trabalho. Quando os milionários, através de partidos dóceis, prometem “acabar com o socialismo”, não combatem as ideologias; combatem direitos. Não destroem fantasmas, mas instrumentos reais de protecção e dignidade.
É fácil agitar o espantalho do “socialismo” enquanto se desfruta dos seus frutos: o descanso semanal, as férias pagas, o subsídio de Natal, o salário mínimo, a protecção na maternidade, o direito a uma pensão de reforma devidamente remunerada, o direito à greve, o Sistema Nacional de Saúde (SNS), a segurança social, a escola pública, a água potável, a iluminação nas ruas. Tudo isto não nasceu de milagres nem de mercados — nasceu da luta de quem acreditou que o trabalho humano merecia mais do que a sobrevivência.
Cada conquista laboral e social é, na sua essência, um acto de redistribuição moral: tempo em troca de vida, segurança em troca de paz. O que se tenta hoje inverter é precisamente esta aritmética da decência. A narrativa anti-socialista serve o mesmo propósito que a austeridade crónica: transferir riqueza para o topo enquanto o resto da sociedade se habitua a agradecer migalhas embaladas em “liberdade económica”.
A verdadeira ironia é que, ao desdenharem o “socialismo”, muitos rejeitam o próprio alicerce da civilização moderna. Sem estas garantias, regressaríamos ao caos anterior à justiça social — uma economia sem alma, onde a vida humana se mede em lucros e perdas.
Chamem-lhe o que quiserem: social-democracia, Estado Social, contrato civilizado. O nome pouco importa; o conteúdo é tudo. Porque o que está em causa não é a palavra “socialismo”, mas a contabilidade moral da sociedade — um balanço entre o interesse privado e o bem comum, entre o capital e a consciência.
E quando o poder económico, travestido de meritocracia, exige “libertar” o mercado, o que realmente pretende é libertar-se de responsabilidades: despedir sem justa causa, especular sem limites, explorar sem escrúpulos.
A justiça social não é uma fantasia ideológica; é uma operação de manutenção da dignidade. Cortá-la é como eliminar a auditoria de uma empresa falida: durante algum tempo, o caos parece lucro. Depois, inevitavelmente, vem a insolvência — não das finanças, mas da própria humanidade.
A Herança Socialista mostra que o verdadeiro progresso não está no lucro, mas na justiça, solidariedade e dignidade humana. O valor de uma sociedade mede-se pelo bem comum, não pela riqueza acumulada. O Estado serve o povo — não o explora. A política deve proteger quem trabalha, não só quem lucra. O futuro será socialista — ou não será de todos.
O que chamam socialismo é, na verdade, o mínimo de justiça.
