Um texto para reflexão: o que é que ainda me prende aqui?


H á semanas em que acordo e me pergunto, em silêncio, o que é que ainda me prende aqui. O trabalho, que antes me dava um certo orgulho, tornou-se uma rotina sem sentido. Já não há entusiasmo, nem sequer raiva, só indiferença.

As tarefas são mal distribuídas, mal geridas. E os prazos… mais quais prazos? Prazos de quê, para quê?

O reconhecimento, mesmo que o trabalho fosse bem feito, bem planeado, equitativamente dividido, é uma causa perdida. Parece que essa palavra nem sequer existe no vocabulário de alguns chefes. Sim, chefes, porque líderes é coisa rara de se ver.

O reconhecimento nunca chega.

Sinto-me invisível, como se a minha presença fosse apenas uma formalidade.

Cumpro o que me pedem, sorrio quando é preciso, mas por dentro há um vazio que se alimenta de mim todos os dias. Caminho pelas ruas como um espectro. O café da manhã é um gesto automático, o rosto no espelho devolve apenas alguém que aprendeu a disfarçar o cansaço. No caminho para o trabalho, observo as pessoas: algumas correm, outras sorriem, e eu me pergunto há quanto tempo deixei de sentir alguma dessas coisas de verdade. No escritório, a rotina é uma coreografia ensaiada: cumprimentar colegas sem entusiasmo, sentar-me à minha mesa, abrir e-mails que se multiplicam sozinhos. Cada notificação é um lembrete de que há sempre mais para fazer, mais para entregar, mais para provar, e que, no final, nada disso muda nada. O relógio parece rir de mim, arrastando-se segundo a segundo, enquanto tento lembrar por que insisti em chegar até aqui mais uma vez. O barulho constante, o telefone que toca, as mensagens que se acumulam… tudo é um lembrete de que a vida, fora desta rotina, continua, mas eu estou preso, invisível e silencioso, a viver apenas para cumprir o que os outros esperam de mim.

Assim vão alguns setores da função publica.