Miguel, senta-te direito que o tio vai explicar devagarinho porque é que a madeira é das regiões mais pobres do país
M iguel, imagina que a Madeira é uma mesada. Todos os meses chega dinheiro. Não é pouco. Vem de Lisboa, vem de Bruxelas, vem de fundos, programas, envelopes coloridos e discursos muito sérios. Agora imagina que, no fim do mês, uma criança continua sem brinquedos, sem lanche e a pedir fiado ao merceeiro. O problema não é a mesada. Nunca foi.
Vamos então ponto por ponto, devagar, como se tivesses cinco anos e estivesses a aprender as cores.
Ponto 1: Economia pequenina, dependente e com rodinhas
Miguel, quando uma região vive quase só de turismo e de obras públicas, ela fica como uma criança que só come bolachas. Sobrevive, mas não cresce. Não há indústria, não há inovação, não há diversificação. Quando o turismo espirra, a Madeira apanha pneumonia. Isto não é azar, é escolha tua e do bardamerda.
Ponto 2: Empregos fraquinhos e salários de brincar
Se as pessoas trabalham muito e continuam pobres, isso chama-se problema estrutural. Salários baixos, contratos precários e jovens qualificados a fazer malas. Não é “mobilidade”, Miguel. É fuga. E não é porque os jovens “não gostam da terra”. É porque não conseguem pagar a renda sem vender um rim.
Ponto 3: Monopólios, amigos grandes e concorrência pequenina
Quando os mesmos de sempre controlam transportes, energia, combustíveis e serviços essenciais, os preços sobem e a economia encolhe. Isto é como um recreio onde só um menino pode usar a bola e ainda cobra entrada. Resultado: ninguém brinca, todos perdem.
Ponto 4: Custo de vida de adulto com salário de criança
Tudo é caro: comida, casa, eletricidade, viagens. Mas os rendimentos continuam em modo “anos 90”. Dizer às pessoas para “aproveitarem os apoios” enquanto pagam o dobro por viver numa ilha não é governação. É gozar com quem trabalha
Ponto 5: Obras bonitas não enchem frigoríficos
Rotundas, passeios, eventos, iluminações e conferências dão boas fotografias. Mas não criam riqueza duradoura. Uma economia não se desenvolve com laços inaugurais e discursos repetidos. Desenvolve-se com estratégia, risco e visão. Três coisas que tu claramente não tens.
Ponto 6: Dependência eterna disfarçada de autonomia
A Madeira não é pobre porque é autónoma. É pobre porque a autonomia foi usada para gerir o presente, não para preparar o futuro. Governa-se como quem arruma a casa empurrando o pó para debaixo do tapete e chamando isso de estabilidade.
Resumo final, Miguel
Se durante décadas entra dinheiro e a região continua no fundo da tabela, o problema não é o mar, nem o continente, nem o clima, nem o madeirense. És tu! Estás velho e não produzes resultados novos, só discursos cada vez mais cansados.
Agora podes levantar o dedo, Miguel, e dizer que a culpa é de alguém. Mas lembra-te, quando uma criança faz sempre asneira, não se culpa o recreio. Olha-se para quem estava a tomar conta.
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