N ão gosto de Migueis, há uma elevada percentagem de retórica enganadora. E lá vem o opinador Miguel de Sousa em causa própria, usar uma página do Diário de Notícias do regime, é impossível se branquear com slogans publicitários com tantos deslizes.
“O investimento no golfe não retira qualquer euro à habitação, saúde ou outra carência social. Nem água.” É falacioso! Isto é um argumento contabilístico estreito, não um argumento económico nem territorial. Os recursos públicos não são apenas dinheiro direto! Como solo, água, infraestruturas, isenções, planeamento, prioridade política. Mesmo que não saia um euro do orçamento da saúde, o Governo Regional pelos interesses de Miguel de Sousa, ocupa solo escasso a um uso elitista, canaliza água, direta ou indiretamente e faz o madeirense pagar pelo aumento do custo da água o subsídio (menos custo) da água fornecida aos campos de golfe. Mas também cria infraestruturas públicas (estradas, saneamento, eletricidade) e renuncia a alternativas (habitação, agricultura, uso comunitário).
O Miguel de Sousa foi vice-presidente vaidoso como já confessou? Não parece, isto chama-se custo de oportunidade, conceito básico de economia pública, curiosamente, senão maquiavelicamente, ausente do texto.
“Há água suficiente / Nem água”, que argumento tão frágil no intuito de promover golfe como jaulas de douradas. A realidade factual é ignorada, encarecem a água para provocar menos consumo para ter para campos de golfe, ao ponto de atacar a agricultura. As quintas visitáveis por todo o turismo viram a água de rega com aumento brutal. A Madeira enfrenta stress hídrico crescente, estes dias de chuva são uma mingua na realidade, há alterações climáticas, haverá secas prolongadas, pressão turística recorde, conflitos entre agricultura, consumo humano e lazer. Quer dizer, se eliminarem a agricultura para a dois...
O golfe é uma atividade hidro-intensiva, mesmo quando usa águas residuais tratadas, mistura fontes alternativas. Não existe um estudo público independente de impacto hídrico, mais uma vez não se estuda, depois aldraba-se pondo vendidos a falar a favor ou empresas que produzem estudos posteriores a martelo para quem paga. Não existe plano de contingência para anos de seca extrema, se não existe para o aeroporto ia haver para a água!? Coisa pouca, um estudo que garanta primeiro a prioridade absoluta ao consumo humano e agrícola. Dizer “nem água” não é argumento, é afirmação política.
Mas então e o “milagre” do turismo de golfe? Miguel de Sousa repete um mantra antigo do GR, “O golfe é turismo de qualidade, desestacionaliza, traz riqueza.” O que não é discutido... Quantos empregos permanentes e bem pagos cria? Quantos são precários, sazonais ou mal remunerados? Qual a percentagem da receita que fica na Região? Quem são os proprietários do investimento? Que impacto tem no preço do solo e da habitação envolvente? Sem estes dados, o “turismo de qualidade” é um slogan, não uma conclusão.
Mas Miguel de Sousa é exímio atacante com tretas, uma delas a falsa dicotomia: golfe vs nada. Golfe ou nada? Nada tem o povão que não tem governo à medida. Espero que acordem, este governo não governa para os madeirenses, é a exclusividade de alguns. O texto do Miguel de Sousa insiste numa lógica, “ou é golfe, ou é abandono”, pois se inflacionam terrenos e aumentam o custo da água como sobrevive a agricultura, deixemo-nos de cinismos! Isto é intelectualmente pobre e manhoso. Nunca se fala em alternativas, habitação pública ou cooperativa, agricultura regenerativa, florestação produtiva, turismo de natureza de baixa intensidade, equipamentos públicos. Uso misto, faseado e reversível. Miguel de Sousa, andaste às turras com o jornalismo do Diário de Notícias, mas eles ainda são "porreiros", imagina que te faziam um fact-check sério ou até mesmo perguntas em diercto, daquelas incómodas.
Amigo Miguel de Sousa, só vê golfe quem decidiu não ver mais nada! Os teus argumentos comparativos são preguiçosos, olha que tu também estás na onda do Governo Regional de que o povão come qualquer coisa... Tu fazes comparações com Algarve, Canárias, Marraquexe, Baleares... meu amigo são escalas diferentes, tu queres "golfizar" uma ilha pequena, com pouca área útil porque grande parte é montanha, decidiste te aproveitar dos imobiliários para enfiar campos de golfe a toro e a direito.
Mas não é só a escala, os regimes hídricos são distintos, pressões demográficas incomparáveis, contextos sociais e salariais completamente diferentes. Tu consegues "vender" a ideia de dessalinizar água para regar campos de golfe! Isto é cherry-picking geográfico, escolhe-se quem convém para legitimar uma decisão local já tomada. Miguel de Sousa, não somos todos burros!
“Não contestaram antes” é um argumento recorrente, “Ninguém contestou durante anos”, falácia clássica! A ausência de contestação não legitima decisões erradas, não permite repeti-las em ainda maior quantidade. Muitas decisões passaram sem informação, sem participação pública, em contextos políticos fechados. Além disso, o erro acumulado não vira virtude com o tempo. Não brinquem que algum povo sabe como se fazem as coisas.
O silêncio absoluto sobre habitação é manhoso, curiosamente, Miguel de Sousa reconhece-se a crise da habitação, mas afirma-se que não há qualquer conflito. E os terrenos? E as moradias milionárias junto dos campos de golfe? Brincamos? Inflaciona! Golfe valoriza terrenos, quem comprou terrenos em "cascos de rolha"? Valoriza zonas envolventes, porque só com golfe? Empurra usos residenciais acessíveis para fora, mas, agora para onde? A boiar junto das jaulas de douradas? Aumenta pressão especulativa. Negar esta ligação é negar décadas de evidência urbana.
Miguel de Sousa, és um artista mas estás a fazer o teu papel, o povo e a oposição que abram os olhos. Todo o teu texto revela uma visão clara: desenvolvimento = investimento privado grande, com dinheiro público, um público facilitador silencioso, que a crítica justa é um atraso, não mais pobreza, os pobres a pagar, a ter inflação na habitação e supermercado, os mesmos ordenados miseráveis e sem emprego qualificado para fixar jovens. O ambiente que vendemos ao turismo para ti e um obstáculo, a comunidade é variável residual. Diria negligenciável. É exatamente o mesmo enquadramento discursivo do Governo Regional, apenas com prosa mais cuidada. Miguel de Sousa, és tu que instruis o Governo Regional, por isso sais em quase todas as fotos e esse executivo respeita as ordens. Por isso é que Miguel Albuquerque é sempre muito bom, porque executa a loucura.
Miguel de Sousa, ti não demonstras que o golfe é a melhor opção, demonstra apenas que aceitas a moldura do Governo Regional instruído por ti. Rejeita discutir alternativas, reduzes política territorial a contabilidade orçamental, tratas contestação como ignorância, mas sobretudo, e isto é nojento, chamas “estratégia” a uma decisão já tomada. O problema não é o golfe em abstrato, o problema são as escalas e apresentá-lo como inevitável, neutro e indolor, quando não é nenhuma das três coisas.
No quinto campo de golfe escolhes o lugar excepcional, que estratégia maquiavélica!
Que sorte escreveres e tratares disto em mais uma distração do povão com a Festa. Pagarão caro no futuro e não tenho pena.
