Na Madeira, a criatividade política tem uma fórmula simples e eficaz: a oposição pensa, escreve, propõe e o Governo do PSD "rouba", plagia e reivindica como se fosse génio próprio.
D esta vez, foi Raquel Coelho quem teve o desplante de dizer o óbvio em voz alta, um pecado grave num sistema que prefere o silêncio cúmplice. Chamou a atenção para aquilo que toda a gente vê, projetos da oposição são sistematicamente ignorados, chumbados, ridicularizados… até ao dia em que reaparecem, ligeiramente maquilhados, com logótipo do Governo e discurso triunfalista incluído.
É uma coreografia bem ensaiada:
- A oposição apresenta uma proposta.
- O PSD diz que é “irresponsável”, “irrealista” ou “populista”.
- Passam uns meses.
- O Governo anuncia exatamente a mesma ideia, agora “estruturante”, “visionária” e “histórica”.
E pronto. Ressurreição administrativa. O que era mau ontem torna-se brilhante hoje, desde que venha com selo do poder e seja anunciado em conferência de imprensa bem iluminada. O mais notável é a falta absoluta de vergonha. No fundo, o Governo não governa, edita. Reescreve ideias alheias, apaga autores e apresenta-se como dono da obra.
Raquel Coelho fez mal ao sistema porque fez aquilo que mais o incomoda: apontou o dedo à fraude política normalizada. E depois ainda exigem respeito. Respeito por quem rouba ideias? Por quem bloqueia propostas só para depois as usar como propaganda própria? Usa a oposição como laboratório gratuito e depois apresenta os resultados como obra-prima própria.
Há formas de a oposição lidar com isso. Seguem sugestões objetivas e pragmáticas:
1. Criar rasto documental público e permanente. Cada proposta da oposição deve ser:
- Publicada com data clara (site, redes, repositório público)
- Arquivada de forma facilmente pesquisável
Quando o Governo copiar, a prova já existe. Não é opinião, é cronologia.
2. Antecipar o roubo e denunciá-lo antes da inauguração. Sempre que uma proposta for chumbada ou ignorada, a oposição deve dizer publicamente: “Isto será aprovado daqui a X meses, com outro nome.” Quando acontecer, o Governo fica na posição desconfortável de confirmar a acusação. Funciona melhor do que reagir depois.
3. Comparação direta, sem rodeios tal como a Raquel Coelho o fez. Quando o Executivo anunciar uma “nova” medida:
- Publicar lado a lado o projeto original da oposição e o do Governo
- Reduzir o discurso ao factual, textos, datas, coincidências
Nada fere mais do que a evidência nua.
4. Obrigar o Governo a chumbar por escrito. Exija:
- Fundamentação escrita para rejeição
- Pareceres técnicos claros
Isso limita o espaço para copiar depois sem se contradizer. Nomeie responsáveis políticos concretos. O plágio dilui-se no coletivo; a responsabilidade não. Levar o tema a audições externas. Um governo que copia não é forte. É preguiçoso, previsível e dependente. E isso, bem explorado, corrói mais.
