Eduardo Jesus: afinal há pessoas a viver na Madeira!!!


E duardo Jesus, o incontornável "BM" da política regional, acordou um dia com uma revelação afinal, existem residentes na Madeira. E mais, esses residentes convivem mal com a avalanche turística que ele próprio ajudou a desregular, incentivar e glorificar durante anos. É sempre bonito ver alguém tropeçar nas consequências do seu próprio currículo.

Agora diz que quer “melhorar o relacionamento entre turistas e residentes”. Pena que venha depois de transformar a ilha num parque de diversões onde os madeirenses estão exaustos, mal pagos e permanentemente a pedir licença para existir no seu próprio território.

Já vai tarde, muito tarde. Vai tão tarde que os residentes já não estão zangados, estão cansados. Cansados de centros históricos sem vizinhos, de ruas onde só se ouve inglês mal pronunciado, de casas convertidas em alojamento local e de salários que não pagam nem a renda de um T0 improvisado numa antiga arrecadação.

Mas vamos às razões pelas quais este súbito amor pelos residentes soa a falso:

  1. Porque durante anos os residentes foram apenas mão de obra descartável. Serviam para limpar quartos, servir mesas e sorrir. Opinião própria nunca esteve incluída no pacote turístico.
  2. Porque o turismo nunca teve limites, só metas de crescimento. Mais turistas, mais camas, mais cruzeiros, mais tudo. Qualidade de vida? Isso não entra nas estatísticas bonitas para apresentar em feiras internacionais.
  3. Porque o conflito foi criado por opção política. Não foi um acidente. Foi uma escolha consciente, sacrificar equilíbrio social em nome de números recorde e selfies institucionais.
  4. Não se fala em travar excessos, regular seriamente o alojamento local, proteger moradores ou subir salários. Fala-se em campanhas, sensibilização e outras inutilidades…
  5. Porque é fácil pedir empatia quando já se destruiu a convivência. É como incendiar a casa e depois distribuir panfletos sobre prevenção de fogos.

No fundo, Eduardo Jesus quer que residentes e turistas se deem bem… desde que os residentes continuem a perder espaço, poder de compra e paciência, e os turistas continuem a ser tratados como clientes VIP num território que não lhes pertence.

Esta preocupação tardia não é visão estratégica — é controlo de danos. É o reconhecimento implícito de que o modelo está esgotado, mas sem coragem política para o mudar. Pede-se agora compreensão a quem foi sistematicamente ignorado.

Se Eduardo Jesus quisesse mesmo melhorar a relação, começava por admitir o óbvio, não há turismo sustentável sem pessoas a viver dignamente. Mas isso implicava inverter prioridades, e isso nunca foi o forte da casa.

O homem que passou anos a vender a Madeira ao desbarato, agora surpreendido porque quem cá vive já não acha graça nenhuma.

"BM" está na altura de ires para o Dubai e nunca mais voltares. Não fazes falta nenhuma aos residentes da Madeira.

Antes, decidíamos e íamos à serra, agora não, mais uma lista de espera!