Manual da Ditadura
Capítulo I
Como quebrar um espírito? (exemplos práticos)
Caso 1 – Como quebrar um funcionário usando a negação do mérito
O João nunca ligou a política. Desde cedo interessou-se pela tecnologia. Seguiu a área. Fez licenciatura em Engenharia informática. Podia ter seguido os estudos, mas a situação financeira da família não lhe permitia esse luxo. Pelo que, fez o seu currículo e mandou para bancos, empresas, governo, para todo o sítio que se lembrou.
Recebeu 3 respostas positivas. Procuravam alguém com as suas valências. João tem um dom natural para programação. Em várias linguagens.
João escolheu o governo regional.
Com tanto para fazer, o plano de resiliência, fundos quase ilimitados para criar novas estruturas e procedimentos. Ali estaria em casa e poderia pôr o seu conhecimento ao serviço do progresso da sua querida Madeira.
Abriu o concurso. João foi avisado. Concorreu. Passou com distinção e foi aprovado e contratado. E siga de pôr mãos à obra.
Integrou uma equipa de técnicos, com um chefe de equipa, um chefe de serviços, um diretor.
Primeiro, fez por se inteirar de todo o trabalho e projetos que a equipa tinha em mãos. Depois fez algumas sugestões de como poderia contribuir da melhor maneira para cada um deles. Integrou-se com facilidade na equipa e no espírito. Em pouco tempo o João era da casa.
O João começou, para além do que lhe era pedido e esperado, a fazer alguns projetos que achava que podiam enriquecer o gabinete e a equipa. Mostrou-os aos colegas e depois ao seu chefe, em nome de toda a equipa. Assim que João teve oportunidade, falou com o chefe de serviços e falou-lhe dos projetos, em modo de sugestões. O chefe recebeu-o dias depois e o projeto foi-lhe entregue em mãos. O João estava todo entusiasmado. Sentia que realmente estava a contribuir. O chefe ouviu-o a explicar em que consistia, enquanto atendia chamadas e não parava de teclar. No fim, perguntou ao João se já tinha acabado. Mandou-o pôr o projeto em cima da mesa e agradeceu, enquanto atendia mais uma chamada.
João esperou meses por um feedback que nunca chegou. Um dia, numa das apresentações do governo regional, em que toda a equipa foi convocada à laia de ordem a estarem todos presentes, apanhou o chefe sozinho durante o “coffee break” e perguntou se já tinha visto o projeto. O chefe respondeu que não tinha tido ainda tempo e atendeu mais uma vez uma chamada e pediu licença e afastou-se.
Passado mais um mês, João vê o seu projeto ser apresentado por um dos seus colegas de equipa e pelo chefe de equipa. Uma ideia e um projeto fantásticos. Foi o presidente, o secretário, os diretores de serviços. Houve direito a almoço volante e a muitas palmadas nas costas. Ao João, até hoje, ninguém disse nada. Deu por si a preencher os dias com assuntos sem qualquer desafio. Secaram-no de funções e responsabilidades. De repente, nem já o convidam para tomar café a meio da manhã, como antes. O João cumpre horário, marca no ponto, religiosamente as entradas e saídas. Bom dia e boa tarde. Há dias que é tudo o que diz e ouve. Mataram o João em vida. O João tem 34 anos e está morto. Entretanto assumiu um empréstimo para o seu T1 e está preso a um compromisso. O João não é do partido nem pertence às elites. Um dos colegas de equipa disse-lhe há dias “deixa-te estar. Aqui é sempre assim. Não ligues”. O João inscreveu-se no partido. Espera dias melhores , quem sabe, um dia, uma oportunidade.
Enviado por Denúncia Anónima.
Segunda feira, 13 de Março de 2023
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