O desportista neutro optou, a base de apoio vai mingar.
Q uando já começam a apertar os dinheiros da Europa para a Madeira com a entrada na economia de guerra, Ronaldo decide ser o promotor de Trump destruidor da Europa que encontra sempre tempo para dar tempo a Putin em vez de ser um verdadeiro aliado. Ronaldo que se lembre que os acontecimentos futuros podem lhe trazer um amargo de boca para aquilo que fez ontem.
A Europa, especialmente após o conflito na Ucrânia, tem enfrentado a necessidade de reestruturar as suas prioridades financeiras e de defesa, o que por vezes é referido como uma "economia de guerra". Com o aumento dos gastos com a defesa e o apoio à Ucrânia, os fundos da União Europeia (incluindo os destinados a regiões como a Madeira) podem sofrer pressões. Estes fundos, muitas vezes utilizados para coesão económica e desenvolvimento regional, podem ser reavaliados face a necessidade de segurança mais urgentes.
A Madeira, apesar dos superlativos, propagada e omissão da sua dependência, como região ultraperiférica, depende significativamente dos fundos estruturais e de coesão da UE. Ainda assim ninguém quis sanar a pobreza numa Região pequena e boa de se reorientar. Qualquer aperto orçamental a nível europeu pode retardar projetos de desenvolvimento ou exigir maior rigor e concorrência na obtenção de financiamento.
Eu não sei se Ronaldo está desperto para o que está a acontecer ou leva só uma vida das "Arábias". Trump tem historicamente criticado a NATO, "terra de Ronaldo", sugerindo que os EUA poderiam não defender aliados que não cumpram as metas de gastos com a defesa. Até reconheço e agradeço a dica de Trump porque quero a emancipação total da Europa no pós Segunda Guerra Mundial. Mas a outra leitura é que Trump não cumpre tratados, regras, não é leal com aliados, etc, tem uma postura isolacionista dos EUA que enfraquece a segurança europeia e americana (basta ver que pela falta de confiança a inteligência europeia tem deixado de informar os EUA).
A perceção de todos os que têm massa cinzenta é de uma postura mais branda ou de um "encontrar tempo para Putin" por parte de Trump. Para que ganhe. Isto não tem nada a ver com lealdade, é a ignição que Putin deseja para implodir o ocidente. Isto pode ser visto como uma ameaça à estabilidade na fronteira leste da Europa e um encorajamento para a Rússia, pondo em causa o esforço europeu para a paz e a segurança. Ronaldo admira Trump por isto? Então revela-se numa bolha de narcisismo.
Cristiano Ronaldo, pela sua visibilidade global e estatuto de ícone, tem uma capacidade única de influenciar perceções, e a sua associação política pode ter repercussões na sua imagem e nos seus interesses. Ronaldo está a apoiar publicamente Trump e com isso Putin e suas intenções para a Europa, está a aumentar os riscos de cortes de verbas para a Madeira, para além de pactuar com a ameaça à estabilidade e à ordem internacional.
Mas felizmente os erros pagam-se, um alinhamento com políticas vistas como anti-europeias ou pró-Rússia poderia alienar uma grande parte dos seus fãs e parceiros comerciais na Europa e noutros países aliados. Para uma marca global como "CR7", isso representa um risco financeiro significativo. Os interesses de Ronaldo (e da sua família) estão enraizados na Europa e Portugal, claro que é marca mundial e se calhar vê o encontro com Trump para se projectar nos EUA, mas virá o reverso da medalha. Se as políticas que ele promove fossem vistas como prejudiciais à economia europeia ou à segurança, poderiam, indiretamente, afetar o ambiente de negócios e a estabilidade da sua região natal.
É preciso explicar mais?
Ronaldo, um dos maiores embaixadores de Portugal e da Europa, está a apoiar uma força política que pode destabilizar a segurança e a economia da qual ele e a sua região dependem. O "amargo de boca" seria a ironia de ver os seus próprios interesses prejudicados pelo impacto do seu endosso político.
No atual clima geopolítico, o endosso de uma figura pública a um candidato percebido como antagónico à Europa não é apenas uma escolha política, mas sim um ato com consequências económicas e de segurança para os seus próprios interesses e a sua região de origem (a Madeira), que está intrinsecamente ligada ao bem-estar e à estabilidade da União Europeia.
Há tanto fanático a abrir a boca sem perceber o que projectam.
