Quando um jornalista brilha, a rede cria um pedestal.


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P aula Henriques demonstra que o jornalismo, quando feito com rigor e coragem, ainda pode incomodar. Numa era em que tantos jornalistas se limitam a reproduzir versões oficiais ou a acumular clichés, Paula teve a ousadia de colocar Miguel de Sousa em verdadeiro contraditório, exigindo respostas que não pudessem ser contornadas com a habitual sofisticação retórica. Mostrou que perguntar é, antes de tudo, uma arte, e que a praça pública não é lugar para rodeios ou complacências.

Miguel de Sousa, infelizmente, parece esquecer-se disso. Durante anos, construiu uma imagem de autoridade e experiência, mas agora assiste-se a um desgaste evidente: artigos que soam a repetitivos, opiniões que revelam mais tédio e alguma demência e comentários que corroem a dignidade que outrora possuía. A sua presença na praça pública já é bastante incomodativa; tende a ser um exercício de exaustão para quem lê e ouve. Cada frase mal medida, cada exagero, contribui para uma erosão lenta mas perceptível do respeito que ainda podia merecer.

É hora de Miguel de Sousa perceber que a dignidade não é eterna. Reformar-se, sair de cena, quando ainda há autoridade a preservar não é sinal de fraqueza; é sinal de inteligência. Manter-se em cena quando cada intervenção diminui a credibilidade é, por contraste, pouco inteligente. O povo observa-o e aconselha-o a pensar no seguinte: há momentos em que saber sair é tão valioso quanto saber entrar.

Enquanto isso, Paula Henriques reafirma o papel nobre do jornalismo. Não se limita a registrar acontecimentos; desafia, provoca, esclarece e, sobretudo, lembra-nos do valor da escrita acutilante e do questionamento persistente. Jornalismo como deve ser feito: incisivo, sem medo, e com respeito pelo leitor. Se Miguel de Sousa observasse o trabalho de Paula com atenção, talvez percebesse que a verdadeira relevância não se conquista pela longevidade ou pelo tom elevado, mas pela coragem de colocar boas questões.

O povo agradece quem tem voz para incomodar e discernimento para saber quando o silêncio é mais eloquente do que a palavra. E, nesse sentido, Paula Henriques parece ser um farol. Miguel de Sousa, por outro lado, parece perdido na própria sombra, e cada dia que insiste em permanecer em cena, perde-se paciência, perde-se confiança e, sobretudo a memória da autoridade que um dia teve.