Percebe-se um não qualificado no urbanismo?
A recente aparição do ex-vereador da Câmara, João Rodrigues, como sócio de uma nova empresa de consultoria urbanística instalada a poucos metros da própria Câmara Municipal, levanta questões que não podem ser ignoradas. O projeto reúne o antigo vereador, um arquiteto com quem trabalhou diretamente durante o mandato e a advogada do AFA, formando um núcleo técnico que conhece de perto os processos do urbanismo municipal. Até aqui, poderia tratar-se apenas de um novo percurso profissional — não fosse o conjunto de circunstâncias que tornam este caso particularmente sensível.
O facto mais intrigante é a permanência da secretária e da adjunta do ex-vereador na equipa do novo responsável pelo Urbanismo do executivo PSD. Ou seja, o vereador sai, mas a sua estrutura de apoio mantém-se exatamente no mesmo lugar, enquanto o próprio instala uma consultora urbanística praticamente ao lado da porta. Esta coincidência, repetida em dois pontos distintos — dentro e fora da Câmara — não pode deixar de suscitar perguntas legítimas.
Será esta nova empresa uma extensão informal do trabalho que ficou por concluir no mandato anterior? Será que a proximidade física ao edifício municipal facilita contactos, continuidades ou influências que não podem ser percebidas a olho nu? E por que razão o novo vereador mantém precisamente a equipa do anterior, numa área tão sensível como o urbanismo?
Não se trata de acusar, mas de exigir transparência. Quando um ex-vereador sai pela porta da Câmara e abre um gabinete privado de consultoria quase colado ao edifício, enquanto a sua equipa permanece lá dentro, a situação ultrapassa o domínio das coincidências. A população tem o direito de saber o que se passa, o que justifica esta configuração tão peculiar e quem, no fim das contas, poderá beneficiar dela.
Numa democracia séria, sinais como este merecem explicação — e merecem ser investigados. Até lá, a dúvida permanece. E a dúvida, quando envolve urbanismo, nunca é um bom sinal.
