Sondagens Aldrabadas (Parte II)


Texto que prossegue o Sondagens Aldrabadas (Parte I)

N a primeira parte deste artigo, tornou-se claro que as sondagens feitas exclusivamente às eleições regionais não são independentes pois são encomendadas pelos grandes grupos económicos madeirenses que vivem à custa do Governo Regional e do dinheiro dos contribuintes. Essas sondagens têm objetivos claros, de acordo com as fichas técnicas entregues à ERC, de fornecer dados relevantes ao Governo Regional, composto pela coligação PSD Madeira/CDS Madeira. Através das respostas dos inquéritos, o PSD Madeira consegue produzir políticas que facilitam a vitória nas próximas eleições. Isto é mal e porcamente escondido através da camada intermédia do esquema, o bom nome do JM Madeira e do Diário de Notícias da Madeira, que uma vez foram jornais idóneos e independentes e que depois do irónico "processo de privatização promovido pelo Governo Regional da Madeira, com vista a assegurar a independência da imprensa escrita na Madeira" passaram a ser detidos maioritariamente pelo Grupo Sousa e o Grupo AFA.

Portanto temos dois grupos económicos privados a encomendar sondagens em nome do PSD Madeira numa relação simbiótica que ataca diretamente a democracia madeirense, prejudicando todos os outros partidos. Mas infelizmente a aldrabice não acaba por aqui.

As sondagens são construídas além dos seus objetivos de conhecer a intenção de voto, objetivo indicado nas muito incompletas fichas técnicas. As sondagens tentam criar narrativas e controlar o debate à volta das eleições regionais. Eis um exemplo:

'Setores que mais beneficiaram da autonomia da Madeira - Obras públicas, turismo, economia, saúde, ação social, habitação...' - Não há qualquer ligação entre obras públicas e turismo no que diz respeito à autonomia da Madeira, porque estão estas opções no inquérito? Para tentar aliviar o descontentamento geral que existe contra a Política do Betão e contra o Turismo Rasca massificado. LINK De notar que esta sondagem tem documentos em falta no site da ERC, incluindo o questionário feito, o que baixa toda a transparência do mesmo.

Agora vamos ao exemplo da Intercampus, regressando ao assunto fraturante que é o desporto regional. A conclusão da sondagem foi: "Os resultados mostram bastante indecisão em relação à generalidade das frases apresentadas, a não ser na ideia de beneficiar mais as modalidades amadoras (concordância bastante clara) e não privilegiar tanto o futebol profissional." Mas mais pertinente é observar as perguntas do questionário que levou a esta conclusão LINK:

  1. 'A Região deve rever o modelo de financiamento desportivo, aumentando as verbas disponibilizadas anualmente.'
  2. 'A Região deve rever o modelo de financiamento desportivo, reduzindo as verbas disponibilizadas anualmente.'
  3. 'Deve privilegiar-se o futebol profissional.'
  4. 'Com o aparecimento de investidores privados, o Governo Regional deve manter o financiamento público.'
  5. 'Devem ser aumentados os valores para as atividades amadoras.'

As perguntas são ambíguas e aleatórias. O que são atividades amadoras? Porquê separar o futebol profissional do andebol, basquetebol e outras modalidades que também estão em crise? Quem são esses "investidores privados"? É a Intercampus, empresa lisboeta, que sabe quais são os investidores privados que o Marítimo atrai? Ou será que são os grandes grupos económicos que encomendaram o estudo? É importante notar que o Grupo Sousa é liderado por Luís Miguel Sousa, que também é conhecido por ser presidente da assembleia geral da SAD do Marítimo.

É claro que sem o contexto do que se passa na Madeira, estes truques passam ao lado da ERC. Mas os resultados deste questionário apontam para uma suspeita concordância com as frases 3 e 4, apesar da indecisão que as duas primeiras mostram...

Assim se controlam narrativas. 

Mas não são só os temas e as perguntas das sondagens que são escolhidas a dedo por Luís Miguel Sousa, Avelino Farinha e o PSD Madeira. Os inquiridos também.

Tenho seguido a primeira sondagem a ser realizada com entrevistas/inquéritos presenciais. Posso afirmar, como testemunha primária, que um fenómeno estranho passou-se neste fim de semana à sombra da festa do Chão da Lagoa do PSD Madeira. Chegaram-me relatos desta primeira sondagem presencial na freguesia de São Martinho, no Funchal. Não é nada de estranho, porque a freguesia de São Martinho é a que tem mais eleitores na Madeira. Mas achei estranho o momento do início, certamente os resultados serão enviesados dado que os eleitores do PSD Madeira não estarão em casa mas sim na festa do partido. Então fui a São Martinho, estudar os movimentos dos entrevistadores que estão identificados com cartões pendurados por fitas vermelhas ao pescoço e tablets nas mãos. Não é que os espertalhões entraram maioritariamente em edifícios que beneficiam dos apoios à habitação do Governo Regional e dos Investimentos Habitacionais da Madeira (IHM, também ela organização do Governo Regional)?

É óbvio o esquema. São entrevistados preferencialmente indivíduos de famílias que têm uma dependência absoluta do PSD Madeira em clima de crise habitacional. Pergunto-me se a ERC alguma vez saberá dessa preferência que é dada durante o trabalho de campo? Qualquer habitante de São Martinho poderá também comprovar o que aqui escrevo. Assim como poderá comprovar que os entrevistadores são madeirenses e não lisboetas independentes. Se isto alguma vez viesse a público o plano seria dizer que as sondagens não podem ser enviesadas porque ao mesmo tempo foi a grande festa anual do PSD Madeira, mas os edifícios de baixo custo do Governo Regional não tiveram direito aos famosos autocarros. Foi tudo combinado. 

Assim são encomendadas sondagens e os seus temas, narrativas e resultados escolhidos a dedo, (in)diretamente, pelo Governo Regional.

Paula Gomes

Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 24 de Julho de 2023
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