Décadas de Burro.


O Pestana numa entrevista de vida, como empresário, disse que tinha medo do lóbi do betão (link) e deu o exemplo do Algarve, apesar de também ter os seus pecados e prestes a fazer outro na Praia Formosa, é uma verdade indesmentível que qualquer madeirenses lúcido e não fanático subscreve. Devemos ter medo da ignorância daqueles patos bravos com muitas décadas de burro.

Hoje, um dos jornais do betão, ostenta com orgulho mais uma obra linda que mata a história. Para quem não sabe, quando vamos fazer turismo, encaminhamo-nos para as áreas históricas e não para o betão reluzente. A "esquina do mundo" deveria ser preservada nas mãos de quem saiba dar valor e apoiada por um secretário do turismo mais inteligente. O Governo tirou os seus serviços daquele edifício porque está de cócoras aos magnatas e oligarcas que mandam na Madeira. Obras, obras, obras, já cansa.

“… Aquele ângulo do Funchal era, entre as esquinas do Mundo, um dos mais dobrado, em todos os dias do ano, pelo espírito cosmopolita do século. Em viagem, de recreio ou em trânsito para África e Américas, davam volta ao cunhal do Golden Gate, diariamente…, homens e mulheres de numerosas raças, o passo vagoroso, o nariz no ar, as mãos carregadas de cestos, de garrafas e de bordados da Madeira.” Ferreira de Castro

“Sentado à porta do Golden Gate, ouço o apito do vapor, e já sei o que se vai passar: muda a armação como um cenário de mágica. Surgem homens com grandes chapéus de palha para vender bordados, colares falsos de coral, cestos de fruta; iluminam de repente as lojas, e segue o desfile de tipos - pretas de Cabo Verde com foulards vermelhos na cabeça, mulheres planturosas, alemães maciços, portugueses esverdeados e febris que regressam das colónias, velhas inglesas horríveis que vêm não sei donde e partem não sei para onde, desaparecendo para sempre no mistério insondável do mar; criaturas inverosímeis que rodam a toda a força nos automóveis num frenesi que dura momentos e se passa na única rua onde há um café que transborda de luz. Mas as máquinas de bordo dão o sinal e uma hora depois esta vida fictícia desapareceu e tudo reentra no isolamento e no silêncio. Apagam-se as luzes, correm-se os taipais e os vendedores mergulham na pacatez da vida quotidiana. O quadro está sempre a repetir-se com a chegada e a partida dos grandes transatlânticos.” Raul Brandão

Adeus Madeira romântica que quer um museu à força, como o da banana, porque ambos sabem que os governantes enterram .... e preveem o fim. Adeus passado e encruzilhada de vidas quando a Madeira era um nó que ligava a Europa às Américas e a África. Apague-se a história e a memória, viva a massificação bruta. A Madeira não preserva arquitetura e é cada vez mais um pedaço de betão reluzente no Atlântico, que não flutua nem rentabiliza com inteligência as suas referências históricas, vai ao fundo com esta turma de bestas quadradas a quem estamos entregues. Tudo arrogantemente errado, paz à sua alma! Viva um povo sereno perante tantas atrocidades.

A Madeira não sabe preservar a sua história e as suas referências, são décadas de burro.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 5 de Outubro de 2023
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