Fátima Aveiro: teleférico para ir trabalhar? Não me parece.

 


À s vezes parece que as boas ideias de uns provocam alergia a outros e que, apesar de serem boas soluções, já confirmadas em vários sítios, não podem ser adoptadas. Manuel António Correia deu como solução de mobilidade um metro de superfície, pelo menos entre as zonas mais povoadas e limítrofes ao Funchal. Fátima Aveiro vem com uma solução de teleféricos que, pela lentidão de escoamento, até parece gozo. Então a paisagem já não conta depois de tantas críticas a ideias de Albuquerque como soluções para rentabilizar o turismo?

O debate sobre as soluções de mobilidade para o Funchal, com a complexidade da sua orografia, é sempre intenso, e as propostas de Manuel António (Metro de Superfície) e Fátima Aveiro (Teleféricos) refletem duas visões distintas, mas igualmente ambiciosas, para a cidade. Talvez o melhor é estar calado, Jorge Carvalho nesta matéria pensa no dinheiro necessário.

Mas vamos ao contraste entre a necessidade de mobilidade de massas e o apelo turístico e paisagístico das soluções verticais.

O Metro de Superfície (Manuel António/PTP) ou veículo leve sobre carris, defendida historicamente por forças como o PTP (e mencionada por Manuel António), assenta na premissa de capacidade de escoamento e de ligação interurbana rápida. Consegue transportar um volume muito superior de passageiros por hora do que qualquer teleférico, sendo a solução ideal para ligar o Funchal a concelhos limítrofes densamente povoados, como o Caniço e Câmara de Lobos. Para além disso, fomenta uma verdadeira rede de transportes públicos, reduzindo significativamente o recurso ao carro individual nas entradas da cidade, combatendo assim o congestionamento crónico que se assiste. É uma solução de mobilidade elétrica, alinhada com as metas de descarbonização e apoios europeus para a mobilidade ambiental.

Há desafios, o custo e o espaço, sobretudo com a ganância da construção que se assiste. O Funchal tem um espaço terrestre muito limitado. Implementar um metro de superfície exige grandes investimentos, estudos geotécnicos complexos (em áreas de túneis e pontes) e a reconfiguração do espaço urbano existente.

Desculpem-me, mas a solução do teleférico da Fátima Aveiro/JPP, é uma solução de mais fios na paisagem, uma solução vertical e "turística", não para um dia a dia acelerado de gente que trabalha, a menos que não estivesse a falar para soluções para os madeirenses. A sugestão de teleféricos para a mobilidade urbana, avançada por Fátima Aveiro, aproveita a orografia acidentada do Funchal. No entanto, é aqui que reside o cerne da questão e a crítica. Os teleféricos, mesmo os modernos, têm uma capacidade de escoamento muito inferior à de um metro, especialmente em horários de ponta (casa-trabalho-escola). Usá-los como solução primária para ligar zonas povoadas e desafogar o trânsito da "hora de ponta" é, para muitos especialistas, insuficiente e ineficiente.

Os teleféricos no Funchal (como o do Monte) são, na prática, infraestruturas de lazer e turismo, fruir o tempo, não de mobilidade essencial. A sua principal função é oferecer a "vista panorâmica" (a paisagem) e ligar pontos de interesse turístico, justificando-se por um preço de bilhete elevado que não é sustentável para o pendular diário dos residentes.