Debate autárquico em Machico: uma caixa de surpresas


O debate autárquico em Machico para as eleições de 2025 revelou-se uma verdadeira caixa de surpresas — algumas positivas, outras francamente negativas. Foi um momento que permitiu aos machiquenses perceber quem realmente está preparado para enfrentar os desafios do concelho e quem ainda vive à sombra de estruturas partidárias.

Pela negativa, destaco o candidato do PSD, Luís Ferreira. Sinceramente, esperava mais de alguém que já anda na política há tanto tempo, que sempre esteve ligado ao governo regional e que, por isso, deveria ter um discurso forte, sólido e visionário. A realidade foi bem diferente: apresentou-se mal preparado, com uma dicção difícil de compreender, e protagonizou um debate fraco em argumentos e em alternativas. Em vez de falar do que realmente os machiquenses precisam, reduziu-se a invocar constantemente o governo regional, como se não tivesse voz própria.

Acresce ainda que a sua lista é talvez a mais fraca que seria possível imaginar para Machico. É legítimo questionar: não haverá no concelho pessoas mais capazes para acompanhar este projeto? A falta de auscultação pública e a “correria” de visitas às freguesias apenas de fachada deixam claro que este PSD não está interessado em ouvir as pessoas, mas apenas em manter a máquina partidária a funcionar. Quem olha para Luís Ferreira pode até ver uma imagem polida, mas conteúdo, esse ficou por mostrar. O lema “Nada muda se nada mudar” assenta na perfeição à candidatura do PSD Machico, porque está visto que, com esta lista, nada mudará.

Mas houve também surpresas positivas. O candidato do JPP, Luís Martins, esteve à altura do momento: apresentou um discurso coerente, fundamentado e conhecedor da realidade do concelho. Demonstrou postura, serenidade e visão — exatamente como deve ser um candidato às autárquicas de Machico. Foi uma lufada de ar fresco no debate.

Outro destaque foi Pedro Carvalho, candidato da CDU, que surpreendeu pela forma como soube falar e argumentar. Explicou os seus pontos de vista de forma clara e direta, deixando em evidência que até ele, sem o currículo governativo de Luís Ferreira, esteve muito acima do candidato social-democrata.

O candidato da IL, António Nóbrega, foi aquilo que já esperava dele: firme, conhecedor e objetivo. Mostrou-se mais atento às obras feitas e por fazer do que Luís Ferreira, foi quem mais exerceu o papel de oposição e quem melhor distinguiu as competências da Câmara e do governo regional — algo que Luís Ferreira fez questão de esconder. Nóbrega também foi o único a levantar a questão crucial das acessibilidades, nomeadamente das estradas ainda por terminar e das que precisam de melhoria. Para muitos, terá sido a voz mais assertiva contra o PSD e a favor de uma gestão realista e responsável.

No fim de contas, de todos os candidatos, Luís Ferreira foi, sem dúvida, o que mais desiludiu. A imagem não correspondeu ao conteúdo, e o que se esperava de alguém com tanta experiência acabou por se resumir a vazio. O PSD insiste que “Nada muda se nada mudar”, mas em Machico já se percebeu que essa frase é, afinal, a melhor definição do próprio partido: sem vontade de mudar, sem querer ouvir as pessoas e sem propostas credíveis.

O povo de Machico sempre foi atento e votou em consciência. Não vota apenas na cor da bandeira, mas nas ideias, na proximidade e na capacidade de resposta. E neste debate ficou bem claro quem quer ser parte da solução e quem continua preso a uma máquina que promete pouco mais do mesmo.