Teleférico Do Curral Das Freiras e Pressão Humana Nas Serras


S aiu um artigo na versão impressa Diário de Noticias da Madeira, em que Artur Fernandes, comandante dos Bombeiros Voluntários de São Vicente diz que não têm uma estrutura com recursos humanos suficientes para fazer o número de resgates diários que estão a acontecer de turistas perdidos ou feridos na serras, apelando que tem de haver maior responsabilização dos turistas pelas operações de salvamento, quando estes optam por caminhar em caminhos não recomendados.

Não discordando deste ponto, que é válido, teremos que ser factuais: 

  • Primeiro Facto - A Madeira tem batido recordes nos números de turistas como podem ver no (Link) 
  • Segundo Facto - Se há mais turistas, haverão mais pessoas em todo o lado, incluindo nas serras.
  • Terceiro Facto: Estamos a cada ano com menos chuva (link), o que aumenta também o numero de dias que os turistas e população em geral podem fazer caminhadas e actividades no exterior. A falta de chuva aumenta também as condições propicias para intensificação de incêndios.

Este três factos não mostram sinais de abrandar e todos confluem num ponto de cada vez maior intensificação. Se aumentamos as receitas de turismo, teremos obrigatoriamente de aumentar a infraestrutura para permitir ter este volume de pessoas em segurança.

Isto traz-nos ao Teleférico do Curral das Freiras. Vão estar centenas de pessoas a viajar no teleférico quase diariamente. O parque aventura e Zip Line contém inúmeras actividades de alto risco para ferimentos, com centenas de pessoas presentes em locais de difícil acesso, vulneráveis a incêndios como é o caso da Boca da Corrida. O contrato concessão estipula 2000 euros de renda por 50 anos, prorrogáveis por mais 10.  Um total de 1,4 milhão euros para os 60 anos (sim, milhão, porque nem chega a milhões). No entanto o Governo Já Gastou 370 mil euros para expropriar os terrenos, mais 70 mil euros perfazendo um total de 440 mil euros. Levará um total de 18 anos de rendas pagas pelo teleférico, para reaver um valor equivalente, sem considerar a inflação.

A pergunta que temos de fazer é: estando os bombeiros num ponto de rotura, com que idoneidade é que se vai piorar ainda mais o problema de sobrecarga nas serras, possibilitando até pessoas em pouca forma física de estar em lugares remotos como é no caso do Teleférico. 

Se os bombeiros, correctamente apelam que os turistas incautos têm de ser cobrados se forem resgatados, por andarem em lugares de difícil acesso onde as pessoas habitualmente não circulam, irá esta empresa pagar quando forem feitos salvamentos ou apoio médico nos seus terrenos de difícil acesso, que atrairão volumes de pessoas para aquele local como nunca antes? 

Porque é que se está a promover negócios com os quais não temos infraestrutura para servir, e deverá ser o erário público a financiar algo desta magnitude?

Ou como população teremos de ser nós a financiar isto tudo, ou pior, não financiando, estar conscientes que aos poucos a nossa segurança está cada vez mais vulnerável, porque apesar dos profissionais médicos e de proteção civil darem o seu melhor, não conseguem corresponder ao número de incidentes?

Dizer que o teleférico reduz a pressão nos caminhos pedestres também não é verdade, uma vez que já foi amplamente divulgado que um dos públicos alvos principais seriam turistas de cruzeiro, e o público-alvo é distinto de um tipo de actividade para a outra, uma sendo claramente para turismo massificado. 

Resumindo: Estamos cada vez com mais turistas nas serras, temos projectos em curso que vão colocar mais centenas de pessoas regularmente em locais de altitude, com actividades de alto risco para acidentes, e temos bombeiros que já não conseguem corresponder à procura, nem no outono/época baixa. E sabemos que a tendência será para todos os anos os pontos acima identificados ficarem cada vez piores.

O governo tem de começar a redefinir as suas prioridades e colocar a segurança dos habitantes e turistas da Madeira em primeiro lugar sob pena de começarmos a ter cada vez mais tragédias humanas, em vez de gastar tanta energia, dinheiro e recursos a viabilizar negócios que sobrecarregam ainda mais as nossas maiores vulnerabilidades.

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira 15 de Novembro de 2023
Todos os elementos enviados pelo autor.

Adere à nossa Página do Facebook (onde cai as publicações do site)
Adere ao nosso grupo do Facebook: Ocorrências CM
Segue o site do Correio da Madeira

Enviar um comentário

0 Comentários