D izia-me uma comadre muito bem informada, que teve acesso à acusação do MP, que anda a circular pelas redes sociais, e que a leu como se de um romance de cordel se tratasse, que aquele manuscrito mais parece um guião para um filme de Hollywood: Corrupção, poder, intriga, luxúria, carros velozes e muito mistério.
Fiquei curiosa e também eu fui dar uma vista de olhos pelo material e realmente aquilo “agarra o leitor” tais são os detalhes desta “estória” com sabor subtropical. Há pormenores que são do conhecimento público e que já foram revelados pela comunicação social do continente e que são um vislumbre sobre a vida dos ricos e poderosos da nossa ilha, como a orgia de envelopes de dinheiros apreendidos na casa do Calado e da mãe com o timbre da Câmara e do Governo Regional, a coleção de relógios e canetas de luxo e a quantidade pornográfica de garrafas de vinho e champanhe.
Na “rusga” da justiça do Continente, a orgia pornográfica de dinheiro aprendido estendeu-se também à casa do “empreiteiro” Farinha cuja mansão parece não ter uma divisão onde não fosse encontrado um maço de notas, desde euros, a dólares e até bolívares da Venezuela. Espante-se, até no quarto de hóspedes, onde dormia a irmã da mulher do Farinha a polícia encontrou dinheiro escondido. E claro garrafas e garrafas de vinho, as mesmo que o Correia – o outro empreiteiro arguido de Braga - se gabou nos telefonemas escutados pela PJ que dava aos dignatários do Governo conforme o cargo que ocupavam. Quanto mais alto na pirâmide maior o valor do “tintol”.
O mesmo Correia, que foi buscar Calado ao aeroporto do Porto, quando este se deslocou de propósito ao Continente para participar na festa de anos do empresário. Tenho a certeza que esta festa, que ocorreu em Braga, terá sido memorável com um cicerone como Custódio Correia, certamente um conhecedor e frequentador das afamadas casas noturnas da sua cidade. As escutas, e talvez vigilância da PJ, devem ter, imortalizado o momento. E se as houver, a CMTV com certeza, as vai mostrar, serão tão ou mais interessantes que as que divulgaram do “Pinóquio” Engenheiro “Socas”, quando instalado no hotel Copacabana, no Rio de Janeiro, solicitava ao primo “O gordo” a companhia de várias” meninas” de esmerada reputação.
Neste enredo cativante, não falta até uma personagem misteriosa – um empresário arménio com quem Calado se ia encontrar no Dubai (será que isso tem alguma ligação às tais obras de arte sacra Arménia – que a polícia também apreendeu) nas férias com a mulher, a médica Carla Patrícia mas que a polícia acabou por estragar. Mas o mistério não se fica por aqui. Que dizer do meio milhão de euros encontrados, também em envelopes, no cofre da casa do empresário da noite e dono das Vespas, Rebelo, que patrocinava as corridas de rally do Calado e a sua “Team Vespas”, Pelo que li, este tinha expressas instruções para, em caso da morte deste, o “carcanhol” ser repartido por quatro benificiários. Um mistério que, certamente, só será desvendado num próximo capítulo ou melhor… processo que seguramente a justiça vai abrir.
Mas dizia eu – e este texto já vai longo - há duas personagens “trágicas” e “secundárias” nesta trama que mostram como a arraia-miúda se deixa enredar em crimes, por meia dúzia de tostões, um emprego e “patrocínios” para ralis. O piloto Alexandre Camacho e a sua companheira e o motorista do Calado. O motorista, um tal de Rui Pinto, a quem as autoridades também fizeram buscas ao modesto apartamento no Caniço, e que à falta de garrafas de vinho ou notas, apenas encontraram “religiosamente” guardado numa estante, o acordo de cedência da empresa onde trabalhava, para ir para o governo, onde o chefe Calado lhe arranjou um tacho a ganhar mais de 1300 euros mensais, como seu motorista e pau para toda a obra. A discrição de funções, para além dos requisitos habituais, incluía transportar envelopes com dinheiro, fazer depósitos em numerário nos bancos, levar presentes e garrafas de vinho e até ir buscar o filho do Calado e os amigos ao aeroporto, com o carro do Governo.
Dizia a minha comadre, lamentado a sorte do motorista, “coitadinho, só queria um tachinho no Governo e agora é isto: Desgraçou a vida como o Perna, o motorista do Sócrates. E para quê? Nem uma garrafa de vinho de jeito o patrão lhe deu, as boas ficou ele com elas. É como o piloto e a mulher, o piloto só queria uns patrocínios e um carro para competir, e coitado pensava que tinha sido esperto quando meteu o vaidoso do Calado como copiloto. De caminho desgraçou a vida toda, já nem carro tem - também foi aprendido pela PJ - e a cunha para a mulher arquiteta ainda vai dar confusão”.
Muito indignada, tive que recordar à minha comadre, que gosta de uma boa bilhardice como eu, que não tenho pena nenhuma do motorista, pois para além de estar a ser pago com o dinheiro do erário público - ao contrário do Sócrates que ao menos ainda pagava com os milhões dos subornos que recebeu – gozou sem se importar das folgas e benesses que o patrão ladrão lhe deu, sem nunca se importar com a proveniência do dinheiro que andava a transportar e a depositar. O mesmo com o piloto, que nunca perdeu o sono a pensar como o seu “colega de equipa” presidente e “manda-chuva” lhe arranjava patrocínios e empregos, nestas empresas, numa teia de promiscuidade revoltante e que, a careca, de ter sido apanhado nas escutas a pedir uma cunha para a mulher arquiteta não é mais do que karma. É que já diz o ditado “quem se deita com cães, acorda com pulgas”.
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024
Todos os elementos enviados pelo autor.
Adere ao nosso grupo do Facebook: Ocorrências CM
Segue o site do Correio da Madeira
