Cidadão desiludido


Caros leitores, este cidadão que vos escreve está desiludido.

F alemos não só de política, mas também do estado em que está a nossa sociedade, a forma como age, a forma como pensa. Uma sociedade capitalista em que só vê números à frente, na busca pela estabilidade financeira, mas além disso, procura o lucro desenfreado sem se importar com os métodos ou meios utilizados para alcançá-lo. Age por instinto de sobrevivência, age por aparências e age por egoísmo, pois não interessam os outros, o que interessa é estarmos bem na vida, com dinheiro que compra o colégio dos miúdos, consulta no privado, compra o AMG ou o M3 na garagem e aquelas tão merecidas férias nas Caraíbas. Escusam de me vir apontar o dedo com “mas e se tiver dinheiro, não tenho o direito de gastá-lo no que bem entender?” – não é o meu objetivo criticar quem o faz, porque está de parabéns se trabalhou para o conseguir. Quero atingir o paradigma social de que chegámos a uma normalização da cunha, do “jeitinho”, dos “connects” tendenciosos”, dos concursos “feitos à medida”, daqueles que negoceiam “por baixo da mesa”, dos que tentam ter o monopólio… faço-me entender, certo?

O Homem… ah… que raça chata! Que grande animal esta raça se tornou. Se, no passado, agia por instinto para ter comida, caçava, negociava, conquistava, é pena ver que esta raça não evoluiu. Hoje temos também muitas “caçadas” com interesses dúbios, negócios obscuros e conquistas ocas. A sua sobrevivência e subsistência imperam à sua volta. Se podem seguir um atalho para o sucesso avançam cegamente à procura do “El Dorado”, e quem se interpuser será engolido no processo.

“As aparências iludem” – expressão interessante que praticamente resume toda a nossa sociedade. Vivemos para mostrar. A imagem social/digital é o que conta. Não falando das repercussões psicológicas que isso tem em grande parte da população (por não possuir X ou Y), a imagem de cada indivíduo está cada vez mais caduca. A integridade é invisível. “Quem se exalta, no fim será humilhado. E quem se humilha será exaltado.” Perceberam, senhores e senhoras com os IGalaxy’s Pro Max Turbo Plus GT de €1300 que tiram fotos no modo automático? Julgo que me faço entender.

Olhe para as suas mãos neste momento: são as mãos de um/a egoísta. Sim, todos somos. Quem nunca deu um passo mais apressado só para ficar um lugar mais à frente na fila? Quem nunca soube de uma estratégia para receber aquela comparticipação ou subsídio X ou Y e ficou calado? Quem nunca quis o stock todo só para si, para depois poder monopolizar a sua venda? Esta “Bola de neve” começou antes de nós, e está a passar para os nossos filhos, e cresce! Há deles que já dão certas “vantagens” como adquiridas. Não?? E digo mais, e aqueles que dizem “ah e tal tenho o meu ordenadinho, a minha reforma, a minha pensão e para mim dá, não me importam os outros”. É preciso ser muito egoísta e egocêntrico para afirmar uma frase assim…

Estou desiludido consigo, caro leitor. Cara leitora. Care leitore. Cars Leitors… ridículo, enfim.

Criámos uma sociedade PODRE! OCA! INCONSCIENTE!

Isso, no final de contas, irá refletir-se nos políticos que nos representam. Sejam deputados disto ou daquilo, daqui ou d’acolá, governantes mais acima ou mais abaixo, padecem deste agir por sobrevivência, desta luta por aparências e deste egoísmo entranhado. “Brincam” aos partidos que não se enxergam, são sempre melhores que os outros, falam de melhorar as condições de vida para a população, frases feitas sem conteúdo prático e eficaz na vida das pessoas. Ameaçam-se uns aos outros e abusam do poder ilusório sobre os demais cidadãos. Pensam que estão acima da lei, e tentam influenciar os decisores judiciais em seu favor.

Será que estes políticos, quando vão dormir, pensam nos milhares de eleitores que os colocaram lá? Pensam nos agricultores que lhes entregaram o voto porque julgavam que iriam aumentar os apoios? Pensam nos polícias que lhes entregaram o voto porque julgavam que iriam ter mais proteção, melhores vencimentos e maior respeito? Pensam nos estudantes que lhes entregaram o voto porque julgavam que iriam poder regressar à sua terra e ter um emprego com que sempre sonharam, e finalmente poderem sair da casa dos pais e ter o seu próprio teto?

Estes políticos pensam nas empresas, e não nos seus trabalhadores.

Estes políticos pensam nos seus negócios paralelos, e não no sustento de cada cidadão.

Estes políticos pensam em vencer sempre as eleições para poderem continuar os “esquemas” em que estão envolvidos e que envolvem muita gente para além deles, e não nos simples militantes que os apoiam, nos cidadãos que os elegem.

Um político é o reflexo da sociedade. Seja ele político porque acredita na ideologia do seu partido e lutou para lá chegar, ou porque foi eleito com “votos de protesto”.

Caro leitor, estou desiludido consigo. Fomos nós que elegemos estes políticos e se não prestam é porque nós não prestamos. Não agimos conscientemente para rejeitar aqueles que não são capazes de resolver nossos problemas. Não existe uma doutrina, uma ideologia, uma religião, uma filosofia que seja capaz de recusar a nossa procura incessante pela felicidade. Apesar dos caminhos que trilhamos para alcançá-la, a felicidade é o que nós buscamos, é o bem comum, é a paz, a liberdade, o respeito entre todos e a justiça social. 

Se Moisés registou nas tábuas 10 mandamentos para o seu povo respeitar, o próprio Jesus Cristo resumiu em apenas uma passagem “amar o próximo como a ti mesmo”.

Custará assim tanto sermos mais conscientes dos nossos pensamentos, palavras e ações em prol desta felicidade?

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 23 de março de 2024
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