A Responsabilidade é Deles, não Nossa
P edro Calado coloca a prima legítima como vereadora do urbanismo. Junta a melhor amiga vice-presidente, também ela com problemas de justiça . Rodeia-se dos seus - familiares, amigos, aliados. E nós, cidadãos madeirenses, tentamos compreender: o que se passa, afinal, dentro do PSD Madeira?
Há uma verdade que precisa de ser dita com clareza: os problemas de Pedro Calado com a justiça são dele com a justiça e com o Ministério Público. Não são da Madeira, nem do povo madeirense. E não podemos ser levados a crer que estamos perante uma injustiça coletiva, quando, na realidade, se trata de um processo pessoal e profissional perante as autoridades competentes.
Se Pedro Calado se sente injustiçado, esse sentimento é legítimo - mas a resolução cabe aos tribunais, não à praça pública nem às nomeações partidárias. O Ministério Público existe para investigar. A justiça tem os seus mecanismos. E o respeito por essas instituições é essencial num Estado de Direito.
O que deve preocupar - e profundamente - é a forma como essa “indignação pessoal” está a ser usada como justificação para decisões políticas que colocam em causa o decoro e a estabilidade. Nomeações em cadeia de familiares e amigos, como se estivéssemos perante uma extensão familiar do poder político. Isto não é governar. Isto é fechar o círculo.
Há quem diga: “Mas o povo legitimou o PSD.” Sim, é verdade. Mas essa legitimidade não é um salvo-conduto contra a justiça, nem uma carta branca para desafiar o bom senso. Os processos continuam. A qualquer momento podem surgir novas fases das investigações. E quando isso acontecer - se acontecer - quem pagará o preço é o povo, é a estabilidade da região, é a confiança nas instituições.
A verdadeira instabilidade é manter no poder quem está sob suspeita grave e se recusa a esperar pela clarificação judicial. A instabilidade é não dar tempo à verdade. É governar por impulso, por ressentimento ou por vaidade. É pôr a casa a arder só para provar que se tem razão.
A justiça não é perfeita - nenhum sistema o é. Mas isso não dá a ninguém o direito de colocar as suas batalhas pessoais acima do bem comum. Numa democracia, decoro e responsabilidade são pilares fundamentais do serviço público.
Se um cidadão é apanhado a conduzir alcoolizado e perde a carta de condução, a culpa não é da polícia. É de quem infringiu a lei. Da mesma forma, se alguém está a ser investigado, não pode usar isso como desculpa para se vitimizar e arrastar todo um sistema político para um estado de negação.
O PSD Madeira tem de compreender que o silêncio não é neutralidade. A imposição de figuras envolvidas em investigações é uma afronta à própria credibilidade do partido. Não é o povo que está a ser injustiçado. São eles que se colocam, voluntariamente, numa posição insustentável.
No fim, a pergunta é simples e urgente:
- Queremos estabilidade com justiça e verdade, ou instabilidade com negação e favoritismo?
A escolha, queiram ou não, está a ser feita neste momento. E o povo da Madeira merece mais do que jogos de poder familiar. Merece responsabilidade. Merece decoro !
Esse decoro de que tanto falam não está em nomear pessoas com “rabo de palha”, envolvidas em processos judiciais graves e por esclarecer. Porque imaginemos - e é uma hipótese real - que esses processos voltam a ganhar força. Porque, na verdade, eles ainda não foram encerrados.
Já pensaram na instabilidade que isso pode causar?
Já pensaram que pode, mais uma vez, entrar a polícia pela Câmara Municipal do Funchal adentro? Acham que os funcionários da câmara merecem passar por isso outra vez? Acham que a cidade do Funchal merece esse desgaste institucional e emocional, essa exposição pública, esse clima de tensão?
Por mais solidários que alguns se sintam com Pedro Calado ou com o que ele diz sentir, a verdade é que vivemos num Estado de Direito. E no Estado de Direito, ninguém está acima da justiça.
Não coloquem toda a cidade, nem toda a estrutura da autarquia, numa situação de instabilidade por um capricho pessoal - ou pior, por uma estratégia política imatura e irresponsável de Miguel Albuquerque e Pedro Calado.
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