S ou um madeirense igual a tantos outros. Nasci há 59 anos e não me lembro do 25 de abril, apenas lembro-me do que o meu pai me contou mais tarde. Contou-me que ganhava 5 contos e duzentos e que depois do 25 de abril passou a ganhar 80 contos. Falava-me de liberdade e da miséria da sua infância em que o açúcar era racionado e que só se comia queijo no Natal.
Lembro-me da primeira TV a preto e branco, lembro-me que a RTP-Madeira só aparecia ao fim da tarde e que quando estava tempo de Leste sempre víamos televisão de Canárias, que parecia outro País muito mais desenvolvido. Estudei no Liceu Jaime Moniz e mais tarde, como bom aluno, obtive uma Bolsa do Governo Regional para estudar em Lisboa.
Enquanto estudava só vinha à Madeira no Natal e nas férias de verão porque viajar de avião era caro! Cinco anos depois um professor da Universidade perguntou-me o que ia fazer para a Madeira, porque a Madeira era só festas, bebedeiras e Alberto João. Na altura ri-me, mas face à insistência conseguiu-me convencer e fiquei mais 3 anos num mestrado financiado pela Comunidade Europeia.
59 Anos depois, olho para trás e rio-me do meu professor! A Madeira, embora com mais estradas e sem o Alberto João, continua igual. Já ninguém ganha cinco contos e duzentos por mês, mas o dinheiro face à inflação desvalorizou e as classes sociais distanciaram-se. A realidade é que já não temos a classe média que o 25 de abril criou e voltamos a uma economia centralizada em muito poucos. Embora tenha já uma Universidade, os pais dos jovens voltaram a não ter capacidade para mandar os seus filhos estudar e os jovens licenciados não têm dinheiro para comprar ou alugar uma casa. Vejo o exemplo dos meus dois filhos que continuam a viver cá em casa, sem quaisquer expetativas de futuro e sinto um misto de pena e revolta; e o pior é que os dois agora querem emigrar!
Como a maioria dos madeirenses, não gosto de política. Vejo um Partido embevecido pelo poder há demasiados anos e uma oposição vítima de interesses autistas, onde o objetivo é eleger deputados que não vão servir para nada.
A minha paixão é a Matemática e a Física e nos poucos momentos livres que tenho, dedico-me a calcular declives de retas e desvios do número necessário para obter uma maioria parlamentar que suporte um futuro governo. Os resultados não são animadores e indicam, para pena minha, que alguns Partidos da oposição vão ficar a centenas de votos de eleger deputados.
Não percebo, se por vaidade ou por falta de inteligência, mas muitos partidos da dita oposição continuam a olhar para o seu umbigo julgando-se os únicos donos da razão. Para ganhar em política é preciso definir um alvo a abater, mas infelizmente parece que o alvo predileto continua a ser os mesmos Partidos que insistem em se digladiar entre si, por um misero voto que não vale nenhuma eleição.
Nos dias de hoje a Direita e a Esquerda são uma falácia, porque a política é feita de homens e de mulheres onde a honestidade é um valor cada vez mais raro. Nunca na história da Madeira, a oposição teve uma oportunidade igual a esta e, pelos indicadores, vai ser outra vez desperdiçada. Unam-se, deixem as diferenças de lado! Lutem como um só, ainda vão a tempo!
A minha tristeza é que a continuar assim o PSD vai ganhar outra vez e corremos o risco de voltar a comer queijo só no Natal!
Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 8 de abril de 2024
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