T empos estranhos, estes em que vivemos. Desde fevereiro que assistimos a verdadeiros contorcionismos de caráter que apenas conduziram à atual situação de ingovernabilidade. Relembramos os culpados. Neste caso a culpa não pode nem deve morrer solteira. E não podemos aceitar a grave tentativa de transferir esse ônus para os partidos da oposição, num desesperado ato de covardia política e de caráter que apenas prejudica os madeirenses e portossantenses.
Primeiro culpado desta trapalhada é exclusivamente Miguel Albuquerque, por desespero em manter a imunidade para fugir à justiça, sem ter em conta que esta pode tardar mas aparece sempre, e uma cúpula refém de interesses pessoais que, a todo o custo, quer prolongar a sua mamadeira parasitária. Deveria ter mantido a demissão, aprovado o orçamento para 2024 e manter-se em gestão corrente até sair novo governo das eleições regionais. E nunca deveria ter sido candidato às eleições internas do PSD dando lugar a outro, que, por mais anedótico, até existia. Ao invés disso, deu o dito pelo não dito, motivado pela libertação dos arguidos Avelino, Calado e Correia e mobilizou a cúpula acéfala para, a todo o preço e doesse a quem doesse, tudo fizessem para ganharem as eleições internas. Valeu tudo e foi o que se viu.
Os militantes do PSD-Madeira, bem conhecendo a condição da quase unanimidade das forças políticas com representação parlamentar em não viabilizar um governo liderado por Albuquerque, avançaram em direção ao abismo, hipnotizados pelos argumentos falaciosos de que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não convocaria eleições antecipadas desde que Albuquerque, mesmo arguido com acusações gravíssimas, fosse legitimado pelos militantes do PSD-Madeira. Nada mais ingénuo! Se existe uma condição prévia, o que leva um partido a avançar contra a mesma? Apenas a arrogância de que poderia não precisar desses apoios. António Costa e outros governantes, ao longo da nossa história recente, por situações muito menos gravosas (alguns apenas pela falta de pagamento do IMI), tiveram a hombridade e a altivez de caráter para se demitirem. À mulher de César não basta sê-lo … E depois queixam-se do aumento da abstenção e da imagem negativa que a população, e, em especial os jovens, têm em relação aos políticos que os afasta de uma maior participação cívica.
Resultado: o PSD acabou por obter o pior resultado de sempre em 48 anos de liderança. Repito: o PIOR ! Coisa que não aconteceria se o candidato tivesse sido Manuel António Correia. E garanto que nem sou militante desse partido. É uma conclusão evidente. Tentar escamotear isso apregoando-se uma vitória, por comparação ao PS é simplesmente vergonhoso e revelador de um mau caráter pela tentativa de enganar os madeirenses. Esta cúpula do PSD-Madeira persiste nesta estratégia desesperante, utilizando os acéfalos agentes do eco, como ainda ontem na RTP Madeira, em que se sentia o desconforto e desespero do Deputado Nuno Maciel em justificar o inverosímil. Devem mesmo achar que somos todos “anormais, incompetentes e canalhas”, facilmente enganáveis com os argumentos falaciosos e de raciocínio básico. Confesso que as palavras de Pedro Ramos cada vez mais fazem sentido mas entendidas num ato freudiano de autocomiseração e de reconhecimento do caráter desta liderança do PSD-Madeira. Efetivamente um verdadeiro bando de “anormais, incompetentes e canalhas”.
Papel da oposição: consubstancia a derradeira depositária da honradez da classe política desta terra. Pelo que não deverá ter outra alternativa que não seja dar um cartão vermelho a Albuquerque e a este PSD.
Razões:
👉 coerência política e respeito pela palavra dada ao seu eleitorado. É fácil perceber que TODOS os eleitores dos partidos da oposição votaram neles e não no PSD porque não querem Albuquerque e o seu Governo. Se quisessem diferente teriam logo votado no PSD. Parece óbvio.
👉 argumento da falta de programa de governo e de orçamento - os partidos da oposição não podem cair na esparrela lançada e reiterada pelo PSD de que se não viabilizarem o programa de governo e orçamento serão os responsáveis pela manutenção da instabilidade. Efetivamente aquilo a que chamam instabilidade chama-se transição democrática e tem um responsável que é Miguel Albuquerque. E nesta parte o PS, sobretudo através da Cafofo e de Vítor Freitas, e a JPP através do Élvio, têm sido perentórios em desmontar essa argumentação psicadélica do PSD. Se não existiu orçamento foi apenas porque Albuquerque não o quis. Relembro que, em notícia do “Público” de 5 de fevereiro de 2024, o próprio Representante da República afirmou que «“ lamenta“ a concretização da exoneração antes da aprovação do Orçamento regional…”» “Irineu Barreto assumiu que preferia que fosse concluído o Orçamento regional antes de a demissão ser formalizada e lamentou a opção do líder do PSD-Madeira.” E quem criou esta situação? E quem decidiu não aprovar o orçamento em fevereiro? E quem é que não soube sair quando deveria e bem conhecia a condição dos partidos da oposição?
👉 penalização eleitoral – os partidos da oposição que servirem de bengala a Albuquerque serão fortemente punidos pelo seu eleitorado. O frete da aprovação do programa de governo apenas serve a este PSD-Madeira, a Albuquerque e aos seus lacaios, como Jaime Filipe Ramos, obreiro das negociatas e derradeiras artimanhas para convencer algum, seja quem for. Vale tudo. Já se fala inclusive em ofertas de favores e bens materiais a deputados… A ver vamos se algum se venderá a alma ao diabo. Sinceramente, não acredito!
👉 criação de alternativa de governação – pela primeira vez na história da autonomia, o eleitorado da Região Autónoma da Madeira transmitiu a mensagem de que não quer o PSD Madeira no Governo ao dar uma maioria absoluta a toda a oposição junta. O PSD tem vindo progressivamente a perder eleitorado. Primeiro precisou do CDS, depois do CDS e do PAN, e agora do CDS e de muitos mais. Um cenário que os militantes do PSD-Madeira dizem que nunca pensaram ter de assistir. É o bater no fundo. Mas um bater no fundo que exige que o Representante da República materialize essa possibilidade. Ainda por cima quando resultou evidente que Miguel Albuquerque mentiu ao Representante da República quando garantiu uma maioria de governação. Ou mentiu o Chega e/ou a IL. Seja numa situação ou noutra temos de mudar para que a Madeira e a sua população possa vencer.
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