É a conclusão a que alguns estão a chegar, porque fazer de hotelaria o espaço comum de vivência dos cidadãos traz consequências, desde logo o histerismo das férias que colide com outros que descansam para estar em condições de trabalhar no dia seguinte. Quantas vezes há convívios madrugada dentro. Aliás, o cinismo é tanto que até locais compram dias de férias para fazer festas, ficam a bem com a sua vizinhança, mas vão chatear a outra à qual não têm que "dar a cara", o proprietário recebe as queixas.
O alojamento local é uma praga, porque todo e qualquer lugar é de férias e o comércio adapta-se a esse tipo de cliente. Andamos sempre a fugir do ruído (não bastava as obras em todo lado) e a perceber que zonas ainda estão bem servidas de comércio (integral). Meus senhores, o ruído mata, se você nunca consegue descansar a sua saúde será afectada, que o digam muitos na Zona Velha com um cabrão que lá anda protegido pelo poder. O que vos estou a descrever tem uma designação e faz parte das razões que fomentam pessoas mais irritadas e conflituosas, em suma, uma sociedade mais crispada. Chama-se gentrificação, é o fenómeno de alterar o nosso espaço comum e pessoal, sentimo-nos atingidos e que não nos respeitam. A gentrificação torna-nos pobres porque tudo na zona fica mais caro, arrendar, os bens nas lojas, ficamos com pior poder de compra e com menos calma de uma zona habitacional. Na Madeira tornou-se total. É aqui que eu digo que este Governo Regional, mas também autarquias (porque licenciam), deixaram de governar para os madeirenses.
Outro pormenor da gentrificação é que altera a composição racial ou étnica, estamos a sentir isso com a importação de mão de obra barata que, pode parecer um contrassenso, acabam por viver nas melhores zonas porque enfiam 10 a 15 vencimentos lá dentro, onde todos contribuem, enquanto uma família comum só tem dois vencimentos. O arrendamento aumenta de preço e a prestação da compra de casa não está nada em conta, se é que conseguimos comprar ao preço a que tudo está.
A gentrificação altera a nossa identidade, ela é abalroada, as pessoas têm uma ofensa permanente por lhes terem alterado à besta a sua zona de conforto, vivência e se sentiam bem.
Isto afeta, e com razão, o ânimo e humor das pessoas, elas vivem revoltadas e prontas a rebentar à mínima contrariedade. A culpa é da gestão pública que só se preocupa com amigos e não com a população. Desde a Covid e o boom do Alojamento Local, aceleramos a partida de madeirenses jovens da Madeira, algo descomunal e de que ninguém fala, só disfarça pela massificação do turismo e da mão de obra barata. Estamos cheios de nada, qualquer dia está cheio mas não existem madeirenses, e não são precisas muitas gerações, já vivemos essa situação. Cada vez menos se fala português.
O alojamento local destrói definitivamente com a sensação de vizinhança, penso vezes sem conta o que esse valor deu a todos aquando do grande incêndio, que desceu encosta abaixo rumo ao Funchal. Esses laços comunitários existiam e não sabíamos, quando nos vimos todos no mesmo barco ativou-se para ajudar a apagar os focos que iam caindo do céu, as faúlhas sobre o manto vegetal em redor das casas. Os turistas não criam qualquer elo, os turistas não seguem as normas e costumes locais, usam e vão embora. A rotatividade constante de hóspedes enfraquece e extingue os laços comunitários e diminui a sensação de vizinhança. Sentimo-nos estrangeiros e isolados na nossa terra. Este exagero faz com que sejam intrusos que nos alteram totalmente vida social e económica. Depois, se alguém reage sem tanto tempo como eu para explicar, ainda é chamado de xenófobo, o que nos aumenta a ira. Quando aparece um determinado partido somos tentados a votar para resolver e ainda acabamos com rótulo de fascistas. O problema são os partidos tradicionais a trabalhar só para a sua clientela, dá vontade de rir vê-los discursar que têm que averiguar as causas.
A hotelaria, que já há em quantidade desmesurada, é no entanto mais regulada e melhor tributada. É notório o enriquecimento de alguns em matéria de Alojamento Local, os lucros do alojamento local tendem a se concentrar em proprietários com múltiplos imóveis ou investidores, exacerbando desigualdades económicas. Mais monopólios, dinheiro faz dinheiro sem controlo nem benefício para a sociedade. Solidariedade não é a caridade exibicionista das elites com os "pobrezinhos", é o respeito por eles. As caridades e mecenas desta terra funciona como limpeza da alma pecadora e onde o acto de contrição é sair no jornal.
Há cidades a extinguir os licenciamentos de Alojamento Local porque, apesar de renovar o edificado, desmantela, destrói a cidade, suas gente e costumes, tradições, formas de estar. Tudo se torna impessoal. Os naturais desaparecem por um lado e por outro há perda de receitas fiscais.
Existe barulho por todo lado porque há conversão de residências para alojamento local, o que diminui a oferta de imóveis disponíveis para arrendamento de longo prazo ou até mesmo compra. O custo e os juros fazem o resto. É desta especulação, logo depois dos Vistos Gold que se gera a especulação Imobiliária e consequentemente a bolha. Meia dúzia a querer enriquecer depressa e a governação da ilha e da cidade ajudam sem regras nem visão.
À parte disto, tornamo-nos insustentáveis a nível ambiental, o espaço de vivência é muito menor do que o tamanho da ilha, retiradas as montanhas e a floresta, o que significa que aumentamos o consumo de recursos naturais e produção de resíduos em pouco espaço, águas e detritos, além de uma maior emissão de gases de efeito estufa devido ao transporte e ao consumo energético. Sentimos nas estradas, "nas algas a boiar" com ETARs sem terciário, no Pico do Areeiro e em todos os trilhos, levadas, nossos espaços comuns, etc. Com eles vem o aumento da criminalidade e sinistralidade, tudo já notado. Já pensaram que os número de cobertura de energia limpa não descolam porque mais turistas significa mais "fósseis"?
Estamos todos cada vez mais vulneráveis, os naturais da ilha e o ambiente, não há quem ponha travão na massificação e não há políticas que protejam os moradores de longa data e que garantam habitação acessível para a população local.
Temos de facto “anormais, canalhas e incompetentes”, estão na governação. Os prémios servem para escondê-los.
Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 29 de junho de 2024
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