O Secretário do Turismo afirmou há cerca de um mês no Parlamento que “estamos muito longe de ter excesso de turismo” acrescentando que “o problema tem a ver com a gestão do território” (link), ‘chutando’ para a Secretária do Ambiente, recentemente entrevistada na RTP-M.
Ora bem: estamos com excesso de carros (ninguém sabe quantos), estacionamento onde calha, carros transformados em quartos de dormir (é só deitar os bancos de trás e é grátis), milhares de caminhantes, acampamentos na serra, sacos de lixo aos montes, degradação ambiental visível. Mas, para a Secretária do Ambiente, tudo se resolve com o pagamento no Areeiro mais umas taxas para o lixo.
Há estacionamento a mais porque há gente a mais e esta, a gente a mais, não diminui por ter de pagar 4 euros por 1 hora no estacionamento do Areeiro. Não é aí que está a questão. Só o pode imaginar quem está habituado a resolver tudo atirando dinheiro para cima dos problemas. É o que sempre tem sido feito nesta Região e os resultados conhecem-se.
As contas que são urgentes não são as de euros; são as da carga. É o que se faz em todo o lado – de Canárias a França, da Argentina à Noruega, do Chile à Gorongosa. Carga! Saber por quantas pessoas o território aguenta ser visitado sem ser destruído. Saber limitar, cuidar e criar soluções de acesso: ou proibir acesso a veículo particular, substituindo por transporte colectivo; ou permitindo deslocação a pé condicionada a pedido de autorização; ou obrigando à presença de um guia autorizado; ou, até, só ver de longe – são múltiplas as soluções. Já se percebeu que a proibição a carros de aluguer deu resultado zero; o mesmo vai acontecer com um autocarro ‘caído do céu’. É preciso medidas integradas e combinadas.
Mas, pior ainda nesta pseudo-solução é o ‘pequeno pormenor’ que a Secretária esconde: o Areeiro e o Pico Ruivo pertencem ao Maciço Central que é ‘só’ um Monumento Natural, pelo Decreto Legislativo Regional 7/20217/M, 16 de Março, que Cria a Rede de Monumentos Naturais da Região. E onde, por exemplo, se diz o seguinte: ”…os Monumentos Naturais, enquanto ocorrências naturais que, pelas suas características únicas ou excecionais, (…), reclamam a sua preservação e a manutenção da sua integridade, são a expressão lógica da referenciada estratégia de conservação.” Estratégia, conservação, gestão – conceitos complicados e responsabilidades acrescidas.
Não é de esperar que a Secretária, que tem revelado uma manifesta incapacidade de pensar para além do 5º andar do Edifício Golden e da sede da Rua dos Netos, ‘dê corda às pernas’ para resolver problemas que são cada vez mais complexos, em vez de ir para a RTP debitar a lição estudada, num discurso que tem um grande objectivo: baralhar, porque ninguém percebeu nada, a não ser que é para pagar.
Ou, com jeitinho, esta entrevista foi mesmo só um teatro para justificar a entrada nos cofres da Região (ou de algum concessionário) de mais uns milhões/ano!?
Esta ilha já foi Pérola do Atlântico, passou a ser sonhada como Singapura do Atlântico e está a concretizar-se como Dubai do Atlântico, a caminho de um território rochoso inóspito, no Atlântico.
Clara Sofia
Enviado por Denúncia Anónima
Sexta-feira, 16 de Agosto de 2024
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