A par da Revolução Social, falta a Revolução Cultural.


O dia em que os professores do continente desceram do avião, prontos a conquistar o sistema educativo madeirense: a colonização académica. Equipados com malas cheias de sabedoria pedagógica continental e, claro, uma boa dose de superioridade, lá vinham eles, com o mesmo espírito destemido dos seus antecessores exploradores. Vasco da Gama ficaria orgulhoso. Quem diria que, em pleno século XXI, a Madeira ainda precisava de ser "descoberta" – desta vez, no campo académico. 

E agora, num curioso twist do destino, temos um reitor madeirense no comando, não catedrático, é verdade, mas nascido e criado na ilha. O que lhe falta em títulos, sobra-lhe em conhecimento da realidade local. Será que finalmente se vê a luz ao fundo do túnel? Ou será que este reitor vai ser tão "autónomo" como os grandes líderes regionais do passado, como o nosso querido Alberto João Jardim, sempre tão destemido e firme contra o continente? Ou quem sabe, como Miguel Albuquerque, um homem que, na sua busca pela independência, ainda nos presenteia  com umas bicadas no centralismo lisboeta? Será que este reitor vai seguir o exemplo e levantar a bandeira da autonomia académica, dizendo um sonoro "não" à nova colonização que, recordemos, oficialmente terminou em 1976.

Ou, pelo contrário, será que vai olhar para os professores do continente com um brilho nos olhos e dizer: "Por favor, colonizem-nos outra vez! Não sabemos viver sem as vossas brilhantes lições de como gerir uma universidade numa ilha!"? A ironia aqui é deliciosa. Porque, enquanto os professores do continente continuam a comportar-se como se a Madeira fosse uma espécie de colónia educacional à espera de ser civilizada, os verdadeiros madeirenses assistem a tudo de camarote, com pipocas na mão, a ver se este filme acaba em tragédia ou comédia.

É fascinante como, em pleno século XXI, a mentalidade colonialista persiste, mesmo que a coroa já não esteja na cabeça de ninguém. 

Ah, a colonização académica! Tão moderna, tão subtil e, no entanto, tão familiar. Afinal, como se diz por cá, quem nunca precisou de uns "descobridores" a tentar fazer-nos lembrar quem manda?

Tal como Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e outros tantos exploradores, nem se deram ao trabalho de perguntar se havia gente já a viver cá. Ora, quem seriam esses “indígenas” locais para reivindicar direitos sobre as suas próprias salas de aula?

Os verdadeiros residentes e trabalhadores da ilha, que deviam estar no comando das suas próprias instituições, que conhecem os desafios específicos da insularidade e têm uma ligação visceral à cultura madeirense. Porque, como toda a gente sabe, o conhecimento local é irrelevante quando se tem um diploma do continente no bolso e o sotaque certo para impressionar nas reuniões académicas.

Será que o nosso reitor vai erguer a bandeira da autonomia académica e dizer “basta” a esta invasão de professores-continentais-colonizadores? Ou, por outro lado, vai sucumbir à velha prática do “sim, senhor doutor, venha colonizar-nos mais um bocadinho”? 

Enviado por Denúncia Anónima
Sexta-feira, 27 de Setembro de 2024
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