A cidade estufa.


E pronto, o edifício Varino no Dubai já está habitado. Mal as chaves foram entregues, já devíamos ter começado a fazer apostas sobre quem é que facilitou o processo. Quem será o "mecenas" que tornou possível esta obra tão… digamos, “urgente”? Adivinha-se um nome ou dois, mas claro, ninguém quer falar muito disso. Só sabemos que o tal facilitador já recebeu o prémio. E não, não foi um obrigado com flores, nem uma medalha de cortiça – falamos de outro tipo de prémios, daqueles que se guardam na Suíça ou num paraíso fiscal mais tropical.

Dizem as más-línguas que, se prestarmos atenção, até se consegue ouvir o som das rolhas de champanhe a saltar, algures numa penthouse, enquanto o facilitador contempla as vistas luxuosas para o Forum Madeira, satisfeito com a obra... e, claro, com a conta bancária a rebentar pelas costuras. Porque afinal, quem é que não merece um prémio por facilitar o progresso, não é?

Facilitar uma obra destas no Dubai -Madeira não deve ser para qualquer um. Claro que, em Portugal, construir uma casinha numa aldeia pode ser uma luta de anos, mas no Dubai - varino abre-se um prédio de luxo num abrir e fechar de olhos! Há qualquer coisa na areia quente do deserto que acelera o processo… ou será nas areias movediças dos bastidores?

Agora, pergunto-me: será que alguém parou para pensar no quão doloroso é para a paisagem ver essas aberrações de péssimo gosto arquitectónico a crescer como cogumelos? Num local que poderia ser um jardim público repleto de árvores, sombra fresquinha e um espaço para as crianças correrem sem tropeçar em mármore polido. Mas não, claro que não. Porque quem é que quer árvores e verde, quando podemos ter vidro espelhado e formas estranhas que só um arquiteto em crise existencial poderia conceber?

O que é triste, no meio disto tudo, é que estamos num planeta a ferver, e em vez de ajudarmos a mãe natureza a arrefecer um bocadinho com parques e zonas verdes, preferimos empilhar mais betão. Aquelas árvores teriam sido tão mais úteis a absorver o calor infernal e a dar-nos algum oxigénio enquanto discutimos sobre as alterações climáticas! Mas não… parece que a ideia de um jardim no meio do Dubai é tão utópica como pedir que o facilitador da obra plantasse uma mangueira com as próprias mãos. No fundo, eles lá sabem que uma fachada de vidro reflete muito melhor o brilho dos cifrões do que qualquer sombra fresca de um sobreiro centenário.

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 6 de Outubro de 2024
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