Bilhete Postal 1

Meu caro, 

F oi muito bom o imprevisto encontro que tivemos no Funchal, onde estavas de passagem. Tentámos pôr a conversa em dia, mas não foi possível porque os assuntos são tantos que perceber no que isto vai dar não é fácil. Por isso, olha, resolvi escrever-te uns curtos bilhetes postais para te ir mantendo informado. E não contes com uma sequência cronológica, porque os factos são muitos e às vezes é preciso voltar para trás.

Por isso, e porque já cá não estavas, vou começar por uma espantosa entrevista do Albuquerque a propósito da aprovação da moção de censura. Nunca aconteceu e acho que ele ficou ‘de cangalhas’, não sabe para que lado se volta; está com o olhar um bocadinho vago, assim meio alucinado, a pele seca e uma espumazinha nos cantos da boca.

E parece – vou ser meigo – que está com as calças na mão, e com as calças e tudo, colado à cadeira da Quinta Vigia: e olha que tem a lata de garantir que a gente nunca viveu tão bem e que ele foi o obreiro dessas fantásticas condições de vida que temos!!

Um senão: aumentam os sem abrigo, há quem deixe receitas por aviar na farmácia, as casas a um preço nunca visto, doentes sem tratamentos porque a farmácia do hospital está de prateleiras vazias.

Mas, fica sabendo que aqui há sempre um mas – quer mais um aeroporto para a Fajã da Ovelha e, quiçá, um aeródromo para os jactos privados. Tal a riqueza que por aqui vai.

Até um destes dias

Clara Sofia

Enviado por Denúncia Anónima
Sexta feira, 20 de Dezembro de 2024
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