O Almoço da Democracia

 

Um Banquete de Ironias

H á algo profundamente inspirador na capacidade de Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, de transformar a Quinta Vigia, propriedade do povo madeirense, em uma espécie de restaurante privado de alta gastronomia política. Não é todos os dias que se vê um alegado corrupto a abrir as portas do seu posto de comando para um almoço descontraído com a ministra da Justiça, Rita "Judite". Sim, a ministra da Justiça. Porque nada soa mais apropriado do que um líder, supostamente com algumas arestas legais por polir, a desfrutar de uma refeição num local pago pelo contribuinte, ao lado de quem, em tese, deveria garantir que "ninguém está acima da lei".

A ironia não está apenas na escolha do local. A Quinta Vigia, símbolo do poder público e propriedade coletiva, parece ter sido confundida com uma espécie de "sede social" onde se discutem assuntos que, pelo menos aparentemente, podem vir a envolver o próprio anfitrião. Miguel Albuquerque, na sua postura estoica de "não largo o poder nem que me arranquem", parece ter encontrado na gastronomia institucional uma maneira singular de prolongar seu mandato e, quem sabe, seu conforto.

O cardápio do almoço? Doses generosas de ambiguidade moral, acompanhadas de um vinho licoroso de privilégio, e, claro, a sobremesa favorita de muitos políticos: o famoso "esperar para ver quem faz o próximo movimento". É como se a política madeirense fosse um teatro onde os atores se reúnem para aplaudir a própria encenação, sem nunca mencionar que a plateia (os eleitores) está ficando sem paciência e com fome de transparência.

E Rita "Judite", a ministra que deveria personificar a imparcialidade da Justiça, ali sentada à mesa. Será que ela mencionou, entre uma garfada e outra, o famoso princípio de que "a Justiça deve não apenas ser feita, mas parecer ser feita"? Ou será que esse princípio foi esquecido em favor de uma abordagem mais "gastronômica" da política?

Enquanto isso, Miguel Albuquerque permanece estrategicamente agarrado ao poder, como um jogador de xadrez que sabe que largar o tabuleiro pode significar xeque-mate instantâneo. Afinal, quem quer trocar os banquetes da Quinta Vigia pelas sandes do refeitório da prisão? Ele talvez pense: “Se posso continuar a almoçar à sombra da Justiça, por que arriscar uma refeição na companhia dela?”

No fim, o almoço na Quinta Vigia é mais do que uma reunião entre figuras públicas; é um retrato de como a política pode, por vezes, ser uma paródia de si mesma. Enquanto o povo madeirense assiste de fora, talvez com um misto de indignação e apatia, resta saber se este banquete será lembrado como uma celebração de poder ou como mais um exemplo do velho ditado: "A Justiça tarda, mas não se recusa a um convite para almoçar."

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira,  3 de Dezembro de 2024
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