Fogo! Ainda havia uma nesga que não controlavam.


Também aprovaste esse? A era autárquica também merecia investigações.

M iguel Albuquerque, o poeta dos jardins suspensos da Madeira, decidiu abençoar-nos com mais uma pérola do seu vasto repertório de indignações. Desta vez, a sua cruzada pessoal é contra as denúncias anónimas. Sim, o homem que supostamente deveria aplaudir todas as formas de cidadania ativa acha desconfortável que alguém, escondido atrás de um véu de anonimato, possa ter o atrevimento de apontar o dedo a possíveis irregularidades. Ora, como é que as pessoas ousam estragar o espírito de camaradagem da região? Denunciar corrupção? Favoritismos? Nepotismo? Onde é que já se viu?

Afinal, para quê manter a transparência e combater a impunidade se podemos simplesmente ignorar os problemas e garantir que tudo se mantém “entre amigos”? E, claro, se a denúncia não tem nome e morada no remetente, automaticamente não tem valor. Porque, como todos sabemos, no mundo encantado de Albuquerque, quem denuncia de forma anónima é, no mínimo, um espião russo ou um terrorista social, e não um cidadão assustado com medo de represálias (que, na Madeira, nunca aconteceriam, pois claro…).

Talvez o problema não seja a denúncia em si, mas o desconforto de perceber que, com ou sem nome, há quem esteja disposto a desafiar o sistema. Um sistema que, coincidentemente, parece estar sempre perfeitamente desenhado para que nada se mova sem a bênção dos senhores do poder. Miguel Albuquerque quer transparência, mas só quando a luz não bate no sítio errado. Quem tem algo a dizer, que venha de cara destapada, porque não há nada mais seguro do que enfrentar um governo regional com fama de controlar até o eco da opinião pública.

Curiosamente, o mesmo homem que abomina denúncias anónimas provavelmente adora os elogios anónimos que lhe chegam. Esses nunca lhe devem causar desconforto, imagino. Se for um email anónimo a dizer “Que grande líder!”, aposto que até o manda imprimir e emoldurar no Palácio de São Lourenço.

Mas, sejamos justos, Albuquerque tem razão numa coisa: denúncias anónimas são uma chatice. Fazem com que as pessoas fiquem demasiado vigilantes, com que os escândalos escondidos atrás de portas fechadas tenham o risco de vir à tona. E isso é muito, mas muito inconveniente para quem está habituado a navegar no mar calmo de uma Madeira sem ondas.

Miguel Albuquerque prefere o sossego de um marasmo bem comportado. Denúncias anónimas? Que horror. Mas, já agora, festas luxuosas, obras públicas “especiais” e contratos bem dirigidos? Bom, isso... ninguém precisa denunciar, pois toda a gente sabe que está tudo certinho. Não é verdade Miguelinho?

Enviado por Denúncia Anónima
quinta-feira, 23 de Janeiro de 2025
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