O negócio da poncha na Madeira gera milhões e tem como base três ingredientes. Aguardente, agora chamada rum, mel e limão. Esta é a equação básica do negócio com as variações conhecidas com a introdução das mais variadas frutas e infelizmente a substituição do rum por vodkas baratas para dar mais boost ao rendimento por poncha. Esta é a realidade, apesar de se ter legislado no sentido de definir o que é poncha madeirense. Os empresários não querem saber e o consumidor tão pouco. Vai acima, vai abaixo e o resto e conversa…mais ou menos “acoolizada”.
O rum da Madeira é um produto com elevado valor acrescentado e que tem escoamento garantido, tanto no mercado regional, como ao nível global, onde a excelência do produto é reconhecida, atingindo o mesmo, valores que em alguns casos ultrapassam os 100 euros por garrafa. Este é garantidamente um caso de sucesso que seria fantástico replicar em outros produtos locais. O rum madeirense vale atualmente mais de 5 milhões de euros anuais.
Este é o lado brilhante da moeda que atualmente tem espaço reservado na maioria das superfícies comerciais da Região, onde podemos constatar que a oferta do rum começa sempre em valor igual ou acima dos 15 euros por garrafa.
E como é viver da cana de açúcar na perspetiva de quem a produz? Estamos a falar de uma atividade agrícola exigente, onde o produtor tem de estar sempre “em cima” das suas canas para que estas se desenvolvam garantindo um grau de açúcar optimizado de modo a ser valorizado pelos engenhos.
Atualmente o preço que o produtor recebe é composto por três variáveis, nomeadamente, engenhos (0,21€), POSEI fileira do açúcar (0,19€) e apoios do Governo Regional (0,10€). Estes 0,50€/kg representam um valor de €500 por tonelada. É muito? É pouco?
Consideremos o seguinte. Para produzir um litro de rum são necessários de 12 a 15 kg de cana sacarina. Os engenhos investem assim, em matéria prima, para produzir uma garrafa de rum cerca de €3. É evidente que a este valor acrescem outros custos de produção inerentes ao processo industrial, como seja o engarrafamento e distribuição. Coloquemos em cima da mesa um valor de 6 euros, o dobro do valor pago à produção. Temos 9 euros de custos de produção.
No caso mais desgraçado de uma garrafa comercializada por 15 euros, o engenho tem uma margem de comercialização de 6 euros por garrafa. Em alguns casos muito mais. E ainda bem, que as empresas estão feitas para ganhar dinheiro.
Considerando que o Governo Regional vai se chegar à frente garantindo um apoio de €0,15 por kg, para chegarmos aos 0,55€/kg, ou 550€/tonelada, vale a pena questionar o seguinte. Aquele que fica com a “parte de leão” neste processo produtivo, quanto é que paga ao produtor? A resposta é 210 euros por tonelada. Ou seja, em percentagem os engenhos entram com 38%. Pouco para quem fica com a maior fatia deste negócio milionário.
Os engenhos neste momento fingem-se de mortos, deixando ao Governo e aos apoios comunitários se chegarem à frente para se pagar um valor decente aos produtores de cana. Nesta equação aquele que mais lucra é o que menos investe quando se trata de pagar a matéria prima. Está “mal e mal” como diz o povo. Recorde-se que para fazer rum é preciso ter cana para moer. Sem cana não há rum. Sem rum não há negócio. Pensem nisso senhores dos engenhos!
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
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