A política tem destas coisas. Uns entram, outros saem, e no meio ficam sempre aqueles que seguram as rédeas do espetáculo, garantindo que o guião se mantém inalterável. Nos bastidores, há quem sussurre verdades inconvenientes, mas o palco principal pertence sempre aos mesmos atores, aqueles que se acham protagonistas absolutos da história.
E que belo espetáculo temos assistido! Já é o segundo chefe de gabinete que se vai, e curiosamente, nenhum deles saiu por falta de competência. O primeiro, talvez mais esperto, percebeu que era melhor sair pelo próprio pé antes que lhe fizessem a folha. Porque, claro, quando se trabalha num ambiente onde o cinismo é regra e a transparência é um mito, o melhor mesmo é não esperar para ver até onde a decadência chega.
O segundo, mais audacioso, ousou levantar questões sobre certas "legalidades flexíveis" que andam por aí. Não percebeu que, nesta casa, pensar por conta própria é um pecado grave. Aqui, não se governa com base na lei, governa-se conforme os interesses do momento. E se alguém tem o descaramento de perguntar se tudo está a ser feito dentro dos conformes, a resposta é rápida e eficaz: porta da rua, serventia da casa.
O mais engraçado é que, para os donos do espetáculo, o problema nunca está no sistema, mas sim em quem se recusa a fazer parte da farsa. "Ah, já é o segundo chefe de gabinete que se vai? Que azar, será que só contratamos gente problemática?" Pois, claro! Só pode ser isso. Afinal, como admitir que o problema não está nas peças que vão sendo substituídas, mas sim na engrenagem que as devora?
E não podemos esquecer os fiéis escudeiros do regime. Aqueles funcionários que fazem questão de mostrar serviço, não pelo bem comum, mas para garantir que o chefe está satisfeito. São os que cometem as ilegalidades por ele, os que fazem o trabalho sujo para que a fachada permaneça intacta. E quando alguém se atravessa no caminho? A solução é simples: eliminá-lo. Quem se mete entre a fome e a vontade de comer acaba por ser engolido.
E assim se governa, não para as pessoas, mas para manter um teatro de grandeza onde o protagonista se pinta como visionário, infalível, acima do bem e do mal. Cada pequena conquista é celebrada como um feito histórico, enquanto os problemas reais são varridos para debaixo do tapete. O importante não é governar bem, é parecer que se governa bem.
Mas, como qualquer espetáculo mal ensaiado, uma hora as cortinas caem. E quando isso acontecer, talvez percebam que já não há público disposto a aplaudir.
Enviado por Denúncia Anónima
Sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
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