A hipocrisia da conversa sobre a Noite da Madeira


O uvi recentemente a conversa entre o DJ Ricardo Campos e o Presidente do Governo Regional, Dr. Miguel Albuquerque, sobre a “noite da Madeira”. Uma conversa que oscilou entre nostalgia e hipocrisia. Falaram das Noites da Madeira como se ainda existissem da maneira que pintaram. Pois bem, não existem.

A certa altura, parecia que falavam de uma realidade paralela, um sonho mal contado, um delírio, onde a Madeira ainda fervilhava de música e vida. Como se a noite nunca tivesse morrido, como se os bares ainda pulsassem de gente e as ruas ecoassem vozes e gargalhadas até de madrugada. Um teatro de sombras, onde os atores recitam falas de um espetáculo que já foi encerrado há muito.

A verdade é que a noite da Madeira já estava ligada às máquinas há anos, com o Funchal como o seu centro nevrálgico a definhar lentamente. Mas foi sob o governo de Miguel Albuquerque que veio a morte total. O golpe final deu-se no pós-Covid, quando tudo poderia ter sido revitalizado, mas em vez disso optou-se por um caminho de restrições, abandono e falta de visão. Tentaram transformar a Zona Velha e as Portas Pintadas num novo Bairro Alto ou Príncipe Real, mas o que conseguiram foi uma imitação barata, sem alma, sem identidade e, pior, sem público. O resultado? Uma desgraça.

E é irónico ver um presidente que já viveu a noite e um DJ que a representou por décadas falarem disto como se não tivessem nada a ver com a sua morte. Ricardo Campos foi, sem dúvida, um nome importante na noite madeirense, mas nunca evoluiu. Ficou preso no tempo, como outros. E pior: nesta conversa, deixou-se levar pela narrativa do Presidente, evitando o confronto, talvez por comodidade, talvez por covardia, talvez por simples conformismo.

Mais curioso ainda foi ver a conversa mudar de tom. Começaram com um saudosismo inflamado, exaltando o seu tempo como algo inigualável. Mas, de repente, a narrativa virou: a nova geração afinal é brilhante, melhor do que a deles. Ninguém duvida que hoje há mais educação e oportunidades, mas se há algo que piorou foi a noite da Madeira – e a muitos níveis. No final, tudo resvalou para um piscar de olhos aos votos dos jovens, uma tentativa óbvia de simpatia política embrulhada num discurso conveniente.

Fala-se das Noites da Madeira entre o saudosismo e a desfaçatez, mas a verdade é simples: elas acabaram. E sabemos bem quem segurou a pá enquanto se cavava a cova.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 6 de março de 2025
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