D esde há 236 anos que os termos “direita” e “esquerda” são utilizados para definir a posição política e ideológica de, principalmente, pessoas e partidos. De há umas décadas para cá, existe quem defenda a existência de um espectro político de centro, cujas pessoas, partidos e movimentos pretenderiam situar-se fora daquela dicotomia, alegadamente com uma defesa mais equilibrada das propostas quer de um lado quer do outro, mas que, com uma observação atenta das suas argumentações e atitudes facilmente se consiga defini-los como sendo mais de direita ou de esquerda. Num caso extremo, poderão essas pessoas e instituições englobar uma forma de pensamento e acção definidas como centro-esquerda ou centro-direita. O chamado “não é carne nem é peixe”, cuja posição indefinida lhes permite “estar bem com Deus e com o Diabo”, sem se comprometerem e com a esperança de que, qualquer que seja a situação, sairão sempre incólumes e impolutos.
A separação entre “esquerda” e “direita” vem dos tempos da Revolução Francesa, na altura em que Luís XVI, em Maio de 1789, abriu os Estados Gerais, com as três classes sociais representadas politicamente: clero, nobreza e povo. Até essa altura, os representantes do povo reuniam-se num local à parte e tinham menos direitos em termos de votos, mas, desta vez, exigiram direitos iguais aos dos outros nas audições.
Um mês depois, após a tomada da Bastilha, e manifestando-se contra o direito de veto do rei, defendido pela nobreza, o “povo” passa a reclamar a regra “um homem, um voto”.
No final de Agosto e no início de Setembro, nas duas sessões de debates da Assembleia, os deputados que eram contra o direito de veto do rei reuniram-se no lado esquerdo do presidente da sessão, os outros instalaram-se no lado direito. Ficou assim estabelecida a posição ideológica e política dos que eram opositores ao rei (à esquerda) e os defensores do rei (à direita). Para além do direito de veto do rei, muitas outros princípios, valores, juízos e conceitos dividiam as duas áreas.
Enquanto a “esquerda” exigia uma mudança, um corte com o passado, a “direita” queria manter os privilégios e regalias de que vinham usufruindo. Enquanto os primeiros defendiam uma distribuição mais igualitária e equitativa da riqueza, os segundos não queriam abdicar das suas prerrogativas e vantagens, nem sempre justas ou moralmente éticas, que tinham acumulado ao longo dos tempos. Ficaram assim identificados os defensores da República e os apoiantes da Monarquia.
Actualmente, a “esquerda” pugna por um Estado mais social, com regulamentação e impostos adequados, principalmente para os mais ricos, com costumes e direitos mais liberais, numa sociedade mais igualitária e com menos desigualdade, de modo a garantir o bem-estar da população.
A “direita” insiste em que o indivíduo e a iniciativa privada devem ter um papel de destaque na sociedade, a livre iniciativa quase sem regras, com um Estado menos interventivo, com menor regulamentação e impostos mais baixos (para os ricos), defendendo que a economia se regula pela concorrência entre as empresas, mas também com menos serviços públicos e prestações sociais, e mais conservadora nos direitos.
Os do “meio”, a terceira via, navegam consoante o vento e não se comprometem com quase nada específico da sua posição ideológica...
Aqui chegados, façamos uma análise ao boletim de voto que vai estar ao dispor do eleitores no próximo domingo.
- Direita: PPD/PSD, ND, IL, PPM, CH, ADN e CDS-PP
- Meio: JPP, PAN, PTP-MPT-RIR, PS
- Esquerda: PCP-PEV, L, BE
Correndo o risco de “levar na cabeça” devido a alguns posicionamentos na “lista” anterior, vou tentar explicar.
Da enumeração da “direita”, nada deve ser necessário esclarecer. Todos eles assumem e, alguns com muito orgulho, o seu posicionamento, e basta ler os programas e assistir a certas atitudes das figurinhas que os representam para perceber que o interesse maior desses partidos é satisfazer as vontades das entidades privadas, dos que têm o dinheiro, e retirar qualquer sentido de solidariedade do Estado para com os mais desfavorecidos (veja-se o que se está a passar nos EUA, e não só, com ataques à educação, à saúde, às organizações de apoio aos mais necessitados...). Toda a encenação e conversa de combate à corrupção, da primazia da legalidade, de honestidade e rectidão caem por terra ao mesmo tempo que se vão descobrindo casos e casinhos de negócios duvidosos, manobras estranhas, situações de pedofilia, roubo, violência, etc, etc... (não é preciso rotular os relapsos, pois não?).
Os do “meio”, estão... no “meio”. Tirando o JPP, que também ainda não mostrou o que vale (daí a colocação no “meio”, pois não me parece que queiram ser rotulados como “esquerda”), os outros já nos vacinaram várias vezes. A coligação PTP-MPT-RIR só serve mesmo para... rir. Desde deputados que se despem na Assembleia, a “alpinistas” políticos, ou “robertos” – nunca um nome foi tão bem atribuído – (boneco manipulável, geralmente através de uma mão introduzida numa espécie de luva que constitui o corpo do boneco), que foram saltando de tacho em tacho até encontrarem um poiso definitivo, de tudo um pouco se encontra por lá. Quanto ao PS, já teve várias oportunidades, no continente e na Madeira, para se definir e apresentar como opção concreta e fiável para um futuro melhor. Continuamos à espera...
À “esquerda” pouco é necessário explicar. Não obstante nunca terem feito parte de qualquer governo, foi nos mandatos dos órgãos apoiados pelos partidos da “esquerda” que a população mais beneficiou e que as regiões e o país mais se desenvolveram. Talvez não fosse má ideia dar uma oportunidade a quem ainda não conseguiu demonstrar, na prática, aquilo que pode fazer.
Posto isto, e em jeito de conclusão:
quem quiser apoiar aqueles que defendem os ricos (que querem ser cada vez mais ricos), os corruptos, os relapsos das mais diversas áreas criminosas, ou ser alguém que faz parte desta enumeração, irá votar nos partidos da “direita”;
quem se estiver “nas tintas”, quem achar que a política é diversão ou um meio de subir na vida, deverá votar nos do “meio” (não os aquece nem arrefece, apenas tira votos à “esquerda” e favorece a “direita”);
quem ainda tem confiança numa vida mais justa e acha que a Região e o país podem ser lugares onde todos vivam felizes, sem jovens a terem de sair do país à procura de vida melhor, com habitações para todos à medida das suas capacidades financeiras, sem ser necessário andar a fazer peditórios nos supermercados para arranjar alimentos para quem não tem, sem a angústia constante de uma doença ou da falta de medicamentos para a combater, etc, vai, certamente, votar na “esquerda”, pois é a única solução confiável e com sentido.
No domingo, a escolha do futuro que ambicionam é de cada um dos eleitores (e a abstenção não é opção), mas vejam lá como votam, porque depois, não adianta “chorar”.
Fernando Letra
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