A urgente dignificação dos músicos no setor hoteleiro da Madeira



N os últimos anos, a profissão de músico tem sido alvo de uma crescente precarização no setor hoteleiro da Madeira. Se antes as condições de trabalho já eram frágeis, hoje assistimos a um cenário insustentável e eticamente questionável, onde a exploração disfarçada de "oportunidades" e a falta de direitos são a norma. O que estamos a testemunhar não é apenas uma crise econômica, mas uma falência moral de um sistema que deveria valorizar a cultura e os artistas.

No entanto, é hora de mais do que apontar o dedo. Chegou o momento de apresentar soluções práticas e concretas para a recuperação da dignidade dos músicos.

1. Contratos Formais: A Primeira Exigência

A primeira medida necessária é a obrigatoriedade de contratos de trabalho formais. Não se pode continuar a permitir que músicos trabalhem sem qualquer tipo de garantia. A formalização do vínculo é a base para garantir direitos laborais e assegurar que os músicos não sejam tratados como trabalhadores de segunda classe. Os contratos devem ser claros e detalhados, assegurando remuneração justa, horários e responsabilidades bem definidos.

2. Remuneração Condigna: O Fim da Precariedade

A remuneração é, sem dúvida, uma das questões mais urgentes. Não é admissível que músicos continuem a ser pagos abaixo do salário mínimo ou que recebam pagamentos irregulares e sem transparência. A implementação de uma tabela salarial mínima obrigatória, que leve em conta a carga de trabalho, deslocações, e equipamentos necessários, é essencial. O Governo deve agir, criando legislação clara que regule e fiscalize os pagamentos no setor hoteleiro.

3. Fiscalização Eficaz: Cumprir a Lei é Urgente

O que falta ao setor é fiscalização. As normas existem, mas, muitas vezes, não são cumpridas. O Governo e as entidades regionais precisam de criar um mecanismo de fiscalização eficaz, que monitorize as condições de trabalho dos músicos nas unidades hoteleiras. Só com uma fiscalização rigorosa e com penalizações para quem não cumprir as normas será possível combater a exploração e garantir os direitos dos trabalhadores.

4. Formação dos Gestores Hoteleiros: Qualidade na Gestão Cultural

Para garantir que as decisões sobre animação musical não sejam tomadas por gestores sem conhecimento da área, é fundamental que todos os responsáveis por essas funções tenham formação específica em gestão cultural ou eventos, além de um mínimo conhecimento dos direitos laborais. A gestão de animação não pode ser apenas uma questão de entretenimento, mas de respeito pelas condições de trabalho dos artistas.

5. Selo de Qualidade: Incentivar os Hotéis Responsáveis

Para promover boas práticas, sugerimos a criação de um Selo de Qualidade para Hotéis Responsáveis com a Música. Este selo seria atribuído aos hotéis que cumprem as normas laborais e oferecem condições dignas de trabalho aos músicos. Além de valorizar os hotéis que respeitam os direitos dos trabalhadores, este selo serviria como um estímulo para outros se alinharem com essas boas práticas.

6. Proteção Contra Despedimentos Arbitrários

Outro ponto crucial é garantir que os músicos não sejam despedidos sem justa causa. O setor hoteleiro precisa de respeitar os direitos dos trabalhadores, incluindo o aviso prévio e as indemnizações devidas. Despedimentos arbitrários não podem ser tolerados, e as infrações devem ser punidas.

7. Regulação das Plataformas de Contratação

Hoje, muitos músicos são contratados através de plataformas e agências que não garantem direitos nem formalizam contratos. É urgente que o Governo regule essas plataformas, de forma a assegurar que cumpram com a legislação laboral e garantam o pagamento regular e justo. Agências que não cumpram as normas devem ser responsabilizadas.

8. Chega de Tratamento Humilhante: Músicos Merecem Respeito

Por fim, é fundamental acabar com o tratamento humilhante a que muitos músicos são sujeitos. Os músicos não são mordomos nem objetos descartáveis. Eles são profissionais que merecem respeito e condições dignas de trabalho. A carga de trabalho deve ser reconhecida e devidamente remunerada, e os músicos devem ser tratados com a mesma dignidade que qualquer outro trabalhador.

Conclusão

O setor hoteleiro da Madeira tem um grande papel a desempenhar na cultura da região, mas, para que isso aconteça de forma saudável e justa, é necessário que haja uma mudança radical. As soluções estão à vista e precisam ser implementadas com urgência. A música é um pilar da identidade madeirense e merece ser tratada como tal. O respeito pelos músicos e a dignificação da sua profissão não são uma opção, mas uma obrigação.

Só com mudanças reais, que garantam os direitos dos músicos, será possível preservar e promover a cultura da Madeira de forma justa e equitativa.

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