Q uando um presidente de câmara (ou outro líder autárquico) popular chega ao limite de mandatos (três mandatos consecutivos no mesmo cargo) cria-se um vazio de liderança carismática que é, ao mesmo tempo, é uma oportunidade e um risco.
A continuidade é tentada pelo o mesmo partido com novo rosto, normalmente com a bênção do anterior, uma transição na narrativa de segura e estável para apostar numa "herança de obra". Mas a transição nunca é automática. Por mais forte que seja a estrutura partidária, o carisma e a confiança pessoal do presidente cessante nem sempre são transferíveis. Lá foi o tempo de Jardim abençoar, fazer campanha e eleger alguns que não mereciam ser presidentes de câmara. Mas ficou como vimos os interesses, uma cola forte.
Para eleitor ver, as narrativas destacam os factores a favor da continuidade. Legado forte, boas obras visíveis, melhorias nos serviços, reputação de competência. Apoio direto do presidente cessante é como “ungir” um sucessor, pode ajudar, mas também pode ser visto como manipulação. Se o eleitorado for inteligente pode perceber que os interesses querem continuar, e há uma oportunidade de alternância. Mas também é preciso considerar um partido bem enraizado localmente, com militância ativa, coletividades, juntas de freguesia aliadas.
Vejo "pés de vento" no Madeira Opina, um lugar para ver a realidade. A oposição tem desafios, e que tal o novo candidato ser comparado constantemente ao anterior e sair perdendo. A autocracia ou ditadura é mais fácil de organizar, alguém determina e os outros vão atrás, na verdadeira democracia as lutas para escolher o candidato pode trazer dissabores para o partido, se houver tensões internas (ex: vários pretendentes à sucessão), pode haver divisões amuos, mas a democracia é assim, o vencedor deve saber unir e quem perdeu assumir o seu lugar com lealdade pelo partido.
Penso que muitos como eu acham que a limitação de mandatos é uma oportunidade democrática para fazer diferente, melhor, arejar, mas também votar ao que se acostumaram. A oposição pode explorar a ideia de que é “mais do mesmo” ou “fim de ciclo”. Os que estão acenam com o bicho papão que vai estragar tudo.
A oposição deve ter arrojo e não cometer sempre os mesmos erros, deve ser positiva, mostrar o que vem fazer, os compromissos. A limitação de mandatos é uma oportunidade de ouro para a oposição. A oposição tem as suas dificuldades, mas é preciso perceber que um poder autocrático de abana cabeças não frutifica os melhores candidatos, é a força dos arranjinhos o maior trunfo. A ausência de um líder forte no poder cria um momento raro de abertura, especialmente se partido no poder sofre desgaste natural após três mandatos conjugado com uma figura de oposição conhecida e respeitada (ex: vereador, deputado ou líder comunitário.
É preciso ressalvar que quando uma elei anterior resultou de uma vitória apertada, sinaliza alguma fadiga do eleitorado. A oposição pode jogar com "renovação" versus "cansaço", o discurso de “fim do ciclo” ou “tempo de mudar”. A exposição de erros, negligências ou escândalos de fim de mandato que frequentemente vêm à tona nessa altura fazem mossa.
A oposição tem sempre mais inércia para vencer.
Há algo que nunca aconteceu na Madeira, algo como o caso de Oeiras com Isaltino Morais. Isaltino foi presidente de Oeiras por muitos anos, com interrupções devido a processos judiciais e os limites de mandato. Sempre que teve que sair, a sucessão foi turbulenta. Um exemplo foi a eleição de 2013, em que o seu movimento independente perdeu a liderança para Paulo Vistas (seu antigo vice). Mas sem o carisma de Isaltino, Vistas teve vida curta. Em 2017, Isaltino voltou, foi reeleito, mostrando que a figura pessoal pesa mais do que o partido ou movimento. Existe gente assim na Madeira, até com problemas judiciais?
Fui buscar este exemplo porque a falta de qualidade nos partidos pode fazê-los ir buscar valores seguros do passado ou na sociedade civil... é que nas autárquicas o povo pode se organizar em movimentos se não estiver satisfeito com os partidos. Que vantagem sobre as Regionais.
0 Comentários
Agradecemos a sua participação. Volte sempre.