“Camões e Tanto Sistema”


Um camões com os dois olhos abertos.

M ais uma produção com qualidade estética? Sem dúvida. Criatividade? Está lá. Profissionalismo? Presente. Mas a verdadeira pergunta é: onde está a equidade? Onde está a representatividade da diversidade artística regional? Este espetáculo é só mais um capítulo na novela cultural da Madeira, onde a vitrine é bonita, mas o backstage fede a compadrio e favoritismo.

Os nomes? Sempre os mesmos. Os mesmos artistas de sempre, escolhidos a dedo, pagos com dinheiros públicos, com lugar cativo nos cartazes, nos palcos e nas bajulações institucionais. Não estamos a falar de talento — porque sim, talento há. Estamos a falar de um sistema fechado, onde só canta quem agrada ao poder, só entra quem não desafina do coro, só brilha quem diz amém à cartilha oficial.

A. P., M. F., T. S., R. D. ... talentosos, sim, mas alguns deles também omnipresentes. É como salsa no arroz: estão em tudo. Desde a Feira do Livro à missa campal, é garantido que os encontras no cartaz. Não é normal que os mesmos três ou quatro nomes surjam em todos os projetos, de forma sistemática, como se não existisse mais ninguém nesta ilha com capacidade artística.

E o que dizer de espetáculos que surgem embrulhados em poesia e filosofia, mas que escondem o velho teatro das relações, da influência e da exclusão?

Chamar-lhe “um dos melhores da Feira do Livro” pode até ser justo para quem nunca viu mais do que os rostos repetidos, mas essa afirmação diz mais sobre a pobreza do panorama cultural disponível do que sobre o valor da obra em si. O que é “nosso” é bom? Sim. Mas o “nosso” não são só os mesmos de sempre. O “nosso” também são os que estão calados, silenciados, ignorados e excluídos.

A cultura na Madeira, por vezes, é como um condomínio fechado com porteiro e tudo: só entra quem tem chave, ou quem é amigo do síndico. “Camões e Tanto Mar” foi, para muitos, emocionante. Para outros, foi mais um lembrete de que o mar da cultura madeirense só banha uma praia: a dos protegidos do sistema. E a quem tenta nadar fora dessa corrente, resta-lhe o naufrágio.

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