Caro Miguel Albuquerque,
Q uando, um dia destes, der por si a contemplar o horizonte cinzento por entre as grades, quiçá num retiro espiritual patrocinado pelo Estado, também conhecido como prisão preventiva, não se esqueça de levar consigo um bem de grande valor: a famosa camisola do CR7 autografada.
Afinal de contas, com os honorários do seu advogado a uns humildes 1400 euros à hora (e com tendência a subir para uns respeitáveis 1800€ em breve, porque a justiça pode ser cega, mas os advogados nunca perdem de vista o relógio), convém ter um plano B de financiamento. E que melhor investimento do que um pedaço de algodão assinado pelo maior goleador nacional?
Quando finalmente tiver oportunidade de usufruir daquelas instalações com vista para muralhas e portões de ferro, que alguns chamam de prisão preventiva, mas que outros chamam simplesmente de “consequências”, lembre-se de uma coisa: há sempre mercado para memorabilia.
Aliás, não se admire se a camisola for leiloada no eBay sob o título "Item de colecção: resquício de uma era dourada da impunidade madeirense". Porque sejamos honestos, Miguel, entre suspeitas de corrupção ativa e passiva, prevaricação, abuso de poderes e tráfico de influências, já só falta colecionar cromos de si próprio para completar o álbum.
Relembremos: contratos públicos entregues como se fossem brindes de fast food, favorecimentos duvidosos como se o erário público fosse um buffet de luxo, e aquela curiosa tendência para ter amnésia quando aparece uma câmara ou uma comissão de inquérito. Verdade seja dita, o único tráfico que falta acusarem-no é o de camisolas assinadas.
Mas não desespere! Pode sempre transformar a cela em gabinete político, já há precedentes, ou abrir um clube de leitura com ex-autarcas e empresários de confiança. E se a situação apertar, lembre-se: um NFT da selfie com a camisola pode render uns trocos para cobrir a fase final do processo.
Por isso, guarde bem essa camisola do CR7 assinada. Quem sabe, quando os honorários do seu advogado subirem dos actuais 1400€ à hora para uns módicos 1800€ (o que, a julgar pela inflação da ética, é só uma questão de dois anos), talvez seja essa relíquia futebolística que lhe pague mais uma hora de defesa apaixonada e criativa.
Aliás, com um pouco de sorte, talvez o Pedro Calado se junte à sua equipa de defesa. Sempre daria jeito ter mais alguém habituado a lidar com tribunais…
Com os melhores cumprimentos, e votos de que o tribunal seja tão generoso quanto foram os seus amigos no poder,
Um cidadão que paga impostos (e advogados bem mais baratos).
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