Carta Aberta ao novo Governo Regional

 

Candidatos a arguidos pelo sistema.

Exmos. Senhores membros do novo governo,

C omecemos por onde é habitual nestas ocasiões: os parabéns. Conseguiram aquilo que tantos ambicionam, o lugar ao sol no topo da pirâmide política regional. Um feito digno de nota, especialmente num contexto em que o mérito político parece ser medido pela capacidade de se esquivar a decisões e de sobreviver aos escândalos com um sorriso e um despacho vago.

Agora que aí estão, no topo da montanha (ou será do monte de papelada?), deixem-me oferecer-vos um conselho gratuito, o que é raro hoje em dia: sigam o modelo exemplar de governança de Jorge Carvalho.

Sim, esse verdadeiro mestre da não-ação, guru da indiferença institucional. Inspirem-se nele! Afinal, ele descobriu a fórmula perfeita para a longevidade política: não assinar nada, não opinar sobre coisa nenhuma e, claro, o toque de génio, empurrar tudo para o andar de baixo, especialmente para aqueles que, com tanto entusiasmo, escolheram Miguel Albuquerque como líder. Porque se há coisa mais elegante do que a fuga às responsabilidades, é fazê-lo com classe e sem deixar rasto.

Tenham atenção: o futuro bate à porta, e não vem com flores, vem com processos judiciais. Portanto, pensem bem antes de assinarem seja o que for. Podem sempre dizer, com ar muito sério e institucional, “não tenho conhecimento” ou “essa questão compete a outra secção”. Resultou até agora, não foi?

Sigam o seu exemplo e estarão garantidamente a salvo de qualquer responsabilidade concreta:

  • Não assinem nada. Se não há assinatura, não há prova. E se não há prova, o Ministério Público que vá dar uma volta.
  • Não opinem sobre coisa nenhuma. A opinião compromete, e o silêncio é ouro. Ouro, aliás, que vale mais que qualquer ética governativa.
  • E quando tudo falhar, enviem para a secção abaixo. A culpa, como sempre, será dos técnicos, dos assessores. Afinal, foram eles que puseram a cruzinha, agora que fiquem com o fardo.

Estamos a assistir, caros senhores, a um momento peculiar da nossa história política, em que os gabinetes se enchem de gente e se esvaziam de responsabilidade. Em que os discursos falam de transparência enquanto os processos se acumulam em segredo. E onde o mais esperto não é quem resolve, mas quem consegue passar a batata quente sem queimar os dedos.

Mas atenção: a maré está a mudar. E o que hoje parece ser só mais uma assinatura irrelevante, amanhã pode vir com número de processo, capa parda e citação judicial. Pensem nisso antes de carimbar com entusiasmo. O que agora parece só “um despacho de rotina” pode acabar por vos pôr a dar entrevistas ao lado de advogados.

Por isso, meus caros, façam-nos um favor: se não querem governar com coragem, governem com noção. Se não vão decidir com transparência, então ao menos tenham a decência de não insultar a inteligência dos que cá andam a pagar impostos e a ver a justiça a passo de caracol.

De resto, fiquem tranquilos. O povo está atento. Uns com revolta, outros com resignação, e muitos como eu, com pipocas, a ver até onde chega esta novela política regional.

Um cidadão atento (e bastante farto)

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