Madeira: um silêncio ensurdecedor


H á algo de profundamente inquietante na atmosfera aqui na Madeira, uma espécie de resignação silenciosa que paira no ar como uma névoa. As ruas estão calmas, demasiado calmas. E não de uma forma que denote contentamento ou paz coletiva, mas de uma sociedade adormecida na inação. Em bares, cafés, salões e esquinas, os mesmos refrões ecoam incessantemente: queixas sobre isto, resmungos sobre aquilo, um comentário contínuo sobre injustiças e disfunções. Contudo, apesar de toda a conversa, e há muita, existe uma espantosa falta de ação.

Porquê? Por que razão esta ilha parece tão paralisada quando se trata de exigir o que é legitimamente nosso?

É como se todos estivessem à espera. À espera que outro tome a iniciativa, organize o protesto, carregue o cartaz, absorva o primeiro golpe. Articulamos as nossas queixas eloquentemente à porta fechada, mas pisamos a praça pública e há silêncio. Um vazio onde a indignação deveria rugir.

De que temos tanto medo? Uma nuvem de gás lacrimogéneo? Um jacto de um canhão de água? Uma ou duas balas de borracha? Estas coisas, embora intimidantes, não são o fim do mundo, e certamente não justificam a cedência de direitos fundamentais sem luta. Este medo, esta hesitação, cheira a cobardia. Sim, cobardia. Porque, perante a injustiça, o silêncio não é neutralidade; é cumplicidade.

Comparem isto com outras nações, a Dinamarca, por exemplo. Um país conhecido pela sua civilidade e calma, e ainda assim um que não hesita em sair à rua quando injustiçado. Aí, as pessoas compreendem o poder da unidade, do ruído coletivo, da desobediência pacífica mas persistente. Não se limitam a sussurrar o descontentamento em privado, gritam-no em público. E por causa disso, são ouvidas. Respeitadas. E, em última análise, recompensadas com direitos com os quais nós, aqui, apenas podemos sonhar.

Então, de que estamos à espera? Um salvador? Um momento perfeito? Algum alinhamento mágico de estrelas em que o protesto seja seguro, conveniente e confortável?

Acordem. Esse momento nunca chegará. Os direitos não são oferecidos aos dóceis, são conquistados pelos determinados. Quanto mais tempo esperarmos, mais profundamente o nosso silêncio se enraizará e mais difícil será reaver o que já começámos a perder.

Basta de passividade. Basta das frustrações sussurradas e da indignação performativa ao café. O tempo do descontentamento educado passou. O que precisamos agora é de coragem, não apenas a coragem para falar, mas a coragem para agir. De sair. De aparecer. De reclamar as ruas como lugares de presença, não de ausência.

Se o medo é uma corrente, então a ação é o martelo que a parte. Portanto, quebrem-na. Sacudam a inércia. Saiam para a rua. Exijam o que é vosso. Ninguém mais o fará por vós.

Os vossos direitos não estão educadamente à espera numa fila para serem reconhecidos, já estão a ser erodidos. Ou se levantam por eles, ou perdem-nos.

A escolha é vossa. Mas saibam isto: a história não se lembrará daqueles que esperaram em silêncio. Lembrar-se-á daqueles que se recusaram a permanecer calados.

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