Alguém que meta ordem na UMa


C omeço esta missiva com uma sentida nota de reconhecimento pela inabalável persistência do antigo reitor da UMa, José Carmo. De facto, não é todos os dias que temos o privilégio de assistir a alguém tão devotado ao nobre desígnio de transformar uma universidade pública numa espécie de laboratório pessoal de gestão — e, ao que parece, com ambições civilizadoras. Há quem diga que veio para educar, mas o seu esforço notável em "reeducar" os madeirenses é digno de registo antropológico. Afinal, quem melhor do que alguém de fora para nos explicar como se vive e pensa numa ilha que, curiosamente, já existia antes da sua chegada? Não é verdade Professor Carmo?

É preciso louvar a sua capacidade de resistir ao tempo, à crítica e, sobretudo, às mudanças. O conceito de renovação nunca o seduziu — e isso, convenhamos, é uma forma muito própria de liderança, manter-se imóvel enquanto o mundo avança. E se, sob a sua gestão, a qualidade do ensino se foi esbatendo, cremos que terá sido apenas um pequeno preço a pagar pelo grande projeto de... Receber a sua reforma choruda?

Claro que a função pública tem essas minudências legais — como limites de idade para o exercício de cargos — mas é sempre comovente ver como algumas figuras conseguem interpretar esses detalhes como meras sugestões, e não como o que realmente são. Só podemos agradecer pelo esforço em prolongar a sua missão de colonização académica até ao limite da tolerância institucional.

Agora, com um novo reitor, apesar de professor auxiliar, esperava-se uma lufada de ar fresco. Infelizmente, o que se tem sentido é apenas o ar viciado da promiscuidade académica. Aparentemente, a independência académica deu lugar à subserviência estratégica, com a casa da autonomia madeirense a acolher, com entusiasmo, cada novo nome indicado do continente. E, enquanto os concursos internos se arrastam por meses — ou anos — devido a erros procedimentais evitáveis, é particularmente reconfortante saber que há sempre orçamento para pareceres jurídicos de 7 a 14 mil euros. Porque, como se sabe, não há melhor forma de resolver um erro do que pagar bem para justificar que ele, afinal, talvez nem tenha sido assim tão grave. Multiplique agora esses valores pelos vários concursos internos que ainda estão para sair e as pessoas já estão consultar advogados no continente para fazerem a respectiva reclamação.

Seria talvez o momento ideal para uma pausa. Uma pausa sua, e já agora, do seu sucessor. Não por falta de gratidão — que nunca lhe foi pedida — mas por excesso de permanência. A Madeira precisa de avançar, e há coisas que só se tornam possíveis quando alguns finalmente decidem sair de cena. Por isso, Sr. Carmo, saia de cena. O seu tempo acabou.

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