A cidade do Funchal volta a estar no centro do xadrez político da Madeira. Com um peso populacional e orçamental sem paralelo na Região Autónoma, e sendo o terceiro município mais relevante do país em termos financeiros, a Câmara Municipal do Funchal representa mais do que um cargo executivo: é um símbolo de poder, competência e afirmação política e, este ano, o palco de um momento de redefinição estratégica para o PSD/Madeira.
Num momento em que a liderança autárquica sofre nova transição, com a saída anunciada de Cristina Pedra, abrem-se hipóteses e tensões internas num PSD que ainda não sarou totalmente das feridas recentes. Mas também se desenha uma rara oportunidade de reconciliação e de construção de um projeto agregador.
Uma Paisagem em Fragmentação - O Peso e as Fragilidades dos Nomes em Cima da Mesa
O PSD/Madeira enfrenta agora a delicada missão de escolher um nome que represente mais do que uma simples aposta, que simbolize a possibilidade de unidade interna e recupere a confiança do eleitorado funchalense.
Entre os nomes já lançados nas conversas de bastidores, Pedro Calado continua a ser o mais controverso. Arguido num processo de corrupção, o ex-presidente da Câmara tem contra si a carga judicial e a perceção pública de que não se encontra em condições políticas para liderar. Ainda que mantenha apoios pontuais, a sua recandidatura seria um risco elevado, sobretudo num momento em que a exigência ética é central para os eleitores.
Pedro Fino, ex-secretário regional, é outro nome falado. Apesar do domínio técnico, carece de carisma, de discurso mobilizador e da capacidade de inspirar confiança popular, sendo muitas vezes percecionado como demasiado próximo dos interesses das construtoras, permanecendo, igualmente envolvido em processos judiciais relacionados com corrupção
Bruno Pereira, já testado nas urnas, carrega o estigma de ter liderado a candidatura que entregou o Funchal ao PS de Paulo Cafôfo, a pior derrota do PSD na capital madeirense. Embora mantenha alguma ligação à cúpula interna, o seu nome é frequentemente associado à ideia de estagnação, ineficiência e falta de autonomia, dependente do legado político do seu pai mais do que de um percurso próprio. Ainda assim, a sua manutenção na equipa, caso não encabece a lista, poderá representar um gesto de coesão.
MAC e Maurício Melim - Duas Respostas ao Desgaste
Face a estas opções, sobressaem duas figuras que não são apenas nomes, são projetos políticos com identidade e valores próprios.
Manuel António Correia, impõe-se pela solidez, respeitabilidade e capacidade de agregação. Vencedor da concelhia do Funchal nas últimas internas do PSD e responsável por mobilizar quase metade da estrutura partidária a nível regional, MAC não é apenas um nome forte, é um ponto de equilíbrio.
É o único nome com peso suficiente para permitir uma transição serena, aproveitando quadros com quem já trabalhou como João Rodrigues, Nádia Coelho ou até o próprio Bruno Pereira. Uma candidatura sua não implicaria ruturas, mas sim uma certa continuidade estratégica com liderança política reforçada.
Mais do que um nome, Manuel António representa uma oportunidade rara de unificação do partido no Funchal e, por arrasto, nos restantes concelhos da Madeira. O efeito político de uma candidatura forte e consensual teria repercussões em cadeia, promovendo estabilidade interna e reforçando o ânimo das estruturas do partido.
Num plano mais inesperado, mas cada vez mais falado nos bastidores, surge a possibilidade de uma candidatura independente de Maurício Melim. Depois de ter sido uma das principais figuras da área da Saúde no combate à pandemia de covid-19, Melim é reconhecido pela população como um homem vertical, de valores firmes, que não hesita em colocar princípios acima de conveniências partidárias.
O seu afastamento recente, em rutura com a atual secretária da saúde, gerou enorme capital simbólico, e tem motivado diversos setores da sociedade civil a incentivá-lo a avançar com um projeto próprio. Uma candidatura sua, visando o vazio político, poderia catalisar um voto de protesto de eleitores desiludidos com as máquinas partidárias, e recuperar o eleitorado que valoriza autenticidade e coerência.
Ainda que sem estrutura partidária, Melim representa um desafio sério para qualquer candidatura do PSD ou do PS, sobretudo se apresentar um discurso focado na ética da gestão e na reaproximação entre a autarquia e os cidadãos.
Hora de Albuquerque - O Funchal Como Espelho da Madeira
No entanto, mais importante do que os nomes é a atitude da liderança. Miguel Albuquerque, presidente do PSD/Madeira e figura dominante do cenário político regional da última década, tem agora a oportunidade de deixar um legado não apenas de vitória, mas de estadismo.
Se tiver a maturidade para ultrapassar mágoas internas, deixar para trás os ressentimentos das disputas com Manuel António Correia e assumir o papel de construtor de pontes, poderá ser o primeiro líder da era democrática na Madeira a unir de forma genuína todas as alas do partido. Ao fazê-lo, abriria caminho a uma candidatura forte no Funchal e a um efeito mobilizador em toda a ilha.
Mais do que pintar o mapa da Madeira de laranja, Albuquerque tem nas mãos a possibilidade de refundar o PSD/Madeira como um partido coeso, moderno e reconciliado com a sua diversidade interna. Isso exige visão, generosidade e coragem.
A Madeira olha para o Funchal. E o Funchal precisa que se olhe para ele com visão, coragem e responsabilidade.
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