Custo invisível da dissidência política na Madeira


Barreiras ao Emprego e Contradições Sociais.

S er oposição na Madeira tem um preço. A minha experiência é o reflexo das barreiras que muitos enfrentam na procura de trabalho digno. É tempo de questionar a nossa democracia. A vida de um dissidente político na Madeira não se limita aos debates e às posições ideológicas; estende-se, de forma insidiosa, ao campo profissional e pessoal. Este testemunho revela a dura realidade de quem, publicamente alinhado com a oposição, se confronta com uma teia de obstáculos invisíveis na procura de emprego, expondo as fragilidades de uma sociedade onde a cor partidária, por vezes, se sobrepõe ao mérito e à competência.

O ónus da dissidência política e os desafios profissionais.

A filiação num partido da oposição na Madeira não é, no meu círculo local, um segredo, mas antes um facto amplamente conhecido. Esta circunstância, paradoxalmente transparente na sua visibilidade democrática, impõe uma complexidade acrescida e um obstáculo considerável na procura de oportunidades profissionais condignas. Ser recusado, marginalizado, ignorado e, amiúde, alvo de escárnio, apenas por defender uma visão política divergente, é a realidade crua e desanimadora.

Esta situação expõe as fragilidades de um sistema onde a meritocracia dá lugar à conveniência política, onde a cor partidária, lamentavelmente, dita destinos. A competência, que deveria ser o único critério, é muitas vezes invisibilizada por uma postura baseada em princípios, transformando a procura de um lugar ao sol num labirinto sem centro. A discriminação política no emprego é uma chaga social que se manifesta como exclusão sistémica e menosprezo injustificado, um cenário que exige uma reflexão profunda sobre a saúde da nossa democracia local e sobre os custos invisíveis da dissidência na vida pública.

A contradição da crítica e a ausência de soluções práticas.

É notório que os apoiantes do partido no poder na Madeira me imputam, de forma conveniente e por vezes com uma ironia sombria, a pecha de "malandro" e de falta de vontade de trabalhar, atribuindo-a à ausência de um emprego e salário condignos. Se a minha situação profissional e financeira é de tal forma preocupante e alvo de tão fervorosa análise e condenação por parte desses observadores, a questão impõe-se com lógica invertida: por que não providenciam eles próprios uma oportunidade de emprego?

Esta incoerência sublinha a discrepância entre a retórica acusatória e a ausência de ação prática, revelando, porventura, a natureza meramente discursiva e não genuína das suas preocupações. Lança-se o desafio de passar da crítica à solução, pondo a nu a hipocrisia de comentários que não são acompanhados por um esforço tangível para a resolução do problema apontado. A prova está na ação, e a sua ausência demonstra que a preocupação é, afinal, um adereço, não um motor para a mudança.

O paradoxo da lealdade partidária e o desfasamento do apoio interno.

Como membro incondicionalmente dedicado a um dos partidos da oposição na Madeira, o meu contributo e empenho são bem conhecidos e valorizados nas nossas fileiras. A minha situação pessoal e profissional, com as inerentes dificuldades financeiras, é do conhecimento transparente dos meus correligionários. Contudo, e com alguma perplexidade, observo que, apesar da plêiade de empresários e empregadores que connosco colaboram e gravitam em torno do nosso partido, o convite para uma oportunidade laboral que pudesse mitigar as minhas adversidades permanece elusivo.

É uma curiosa ironia que o apoio e o conhecimento das minhas circunstâncias não se traduzam numa acção concreta. Esta dissonância entre o reconhecimento e o apoio prático instiga uma reflexão sobre a natureza das solidariedades partidárias e a linha ténue entre o idealismo e o pragmatismo. A teia de ligações existe, mas as portas, para mim, continuam fechadas. A fidelidade política, pelos vistos, é um bem que se valoriza no discurso, mas nem sempre se capitaliza na prática.

Em suma, a experiência de ser dissidente político na Madeira é um espelho das contradições que perpassam a nossa sociedade: a crítica fácil coexiste com a ausência de soluções, e a lealdade partidária esbarra na fria realidade da não-oportunidade. Este relato é um apelo à reflexão sobre os custos humanos da dissidência e um convite a questionar se a nossa democracia está, de facto, a valorizar todos os seus cidadãos, independentemente da sua voz política.

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