Descarbonizar


Não quero fazer uma crítica, mas quero que se tenha presente o que é a descarbonização num navio ferry com 21 anos, depois as pessoas fazem os seus pensamentos. Descarbonização refere-se sempre a um processo de redução ou eliminação das emissões de dióxido de carbono (CO₂) e de outros gases com efeito de estufa, gerados pelas suas operações, principalmente através do consumo de combustíveis fósseis. No caso de um ferry com mais de duas décadas de serviço, esse processo envolve uma série de ações técnicas, operacionais e estruturais para modernizar ou adaptar o navio a práticas mais sustentáveis.

Desde logo é necessária a substituição ou conversão do sistema de propulsão para combustíveis com menor intensidade de carbono, como o gás natural liquefeito (GNL, há quem tenha navios e gás...), mas também sendo possível com biocombustíveis, metanol e hidrogénio que está em fase inicial de aplicação. A escolha da solução para os sistemas de propulsão híbrida ou elétrica, depende da viabilidade técnica (prós e contras de um investimento num navio com 21 anos) e ainda das rotas que vai fazer.

Mas descarbonização também cobre a instalação de tecnologias de eficiência energética, como sistemas de recuperação de calor, hélices otimizadas ou atualizações no sistema de propulsão, a lubrificação por ar no casco para reduzir o atrito com a água (* será interessante explicar isto no fim), e ainda uma pintura antifouling de última geração, que reduz a resistência e consumo de combustível

Descarbonizar contempla igualmente melhorias operacionais, no que se refere à gestão otimizada da velocidade (slow steaming), não serve só para bares..., o planeamento eficiente de rotas (porque não Caniçal ?), mas também a monitorização de desempenho em tempo real, para ajustar operações com base em dados

O nosso porto do Funchal está muito atrasado no que diz respeito ao Onshore Power Supply – OPS, a utilização de eletricidade da rede elétrica enquanto o navio está atracado, desligando os motores auxiliares a diesel.

Eu acho que a descarbonização é puramente técnico, mas há quem aceite o poluidor pagante, porque se a redução direta for limitada, pode-se recorrer a créditos de carbono ou investir em projetos de compensação ambiental, como reflorestamento.

Os desafios específicos num ferry com 21 anos tem muito a ver com as limitações tecnológicas e estruturais para incorporar novas soluções, por exemplo, motores mais pesados ou sistemas elétricos. Alguns andam milagreiros e a imprensa ajuda, mas sem ovos não se fazem omoletes. E agora o delírio, mas é verdade, se é privado que compre. Se o custo das modificações é elevado, nada melhor do que a substituição por um navio novo.

Quis que o meu texto fosse prático, respeita as normais atuais 26-5-2025, com normas ambientais atuais e futuras, como a CII e EEXI da IMO (Organização Marítima Internacional).

Reduzir significativamente a pegada carbónica de um navio ferry, com 21 anos, prolongando sua vida útil de forma sustentável e garantindo a conformidade com regulamentos ambientais cada vez mais exigentes. Tem custos a somar para definir a data do seu abate, custo, tecnologias, investimento conjugados.

* Sobre a lubrificação por ar, é um sistema que injeta bolhas de ar (ou uma película de ar contínua) na parte inferior do casco do navio, normalmente a partir de orifícios localizados ao longo do fundo do casco. Este ar forma uma camada entre o casco e a água, reduzindo a resistência hidrodinâmica que o navio enfrenta ao deslocar-se. Criar uma espécie de "almofada de ar" sob o navio e isso reduz consumos.

Obrigado pela oportunidade na publicação do texto. Prossigam o vosso trabalho, não se deixem abater.

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