O exemplo de Nuno e o exemplo de Paulo.


A s demissões de líderes perante maus resultados eleitorais derivam do insucesso, mas também para iniciar outro ciclo com entusiasmo na vida interna. Quando uma derrota acontece, e depende da derrota, a demissão de um líder partidário depois de claros maus resultados eleitorais, é um acto com forte valor simbólico e estratégico. A atitude vai muito além do gesto pessoal, é um sinal enviado ao interior do partido, ao eleitorado e ao sistema político. Andamos a dizer que o Miguel é um "agarrado", mas, e Paulo?

A demissão é o reconhecimento público de que o resultado ficou aquém das expectativas e é preferível que outro quadro arrisque, porque uma derrota pode dever-se ao momento e salva-se o perdedor, repetir é definitivamente a tendência de queda. Quando Nuno se demite e Paulo não (apesar de mais do que uma derrota) mostra-se que a liderança teve ou não um papel directo nesse desfecho. Nuno achou que sim com uma derrota, Paulo não com algumas.

O gesto de Nuno mostra ética política e reforça a ideia de que o poder implica prestação de contas, o líder não se esconde nem transfere culpas. Ao sair, o líder dá espaço à renovação, liberta o partido de uma figura associada ao insucesso, abre caminho a nova energia, discurso e estratégias.

A demissão não é um proforma! Tem uma função. Se é que se consideram camaradas ou companheiros dentro do mesmo partido.

É demissão é crucial para recuperar a confiança dos militantes que ficaram desmotivados, renovar a imagem pública do partido perante os eleitores e o tratamento dos média, protege o partido da erosão contínua. Paulo ao manter-se no cargo, depois de vários fracassos, tende a prolongar a crise interna. Alimenta divisões e desconfiança na liderança que serão públicas e que não retiram o partido de má observação pública. Ao demitir-se, o líder interrompe esse ciclo e permite uma viragem clara, mostrando que o partido ainda se rege por princípios e não apenas por jogos de poder e de "emprego". Não pode ser porque Nuno tem dinheiro e Paulo precisa dele, indo até a exaustão do partido por razões pessoais.

Paradoxalmente, a saída pode fortalecer a figura do líder a longo prazo, pode trazer saudosismo daqueles que dizem que "até já", foi um momento impróprio. Será que o Gouveia não estará arrependido de fazer uma travessia do deserto, com desfecho inesperado e quem, sem dúvida, gerou o baixar de guarda no partido de Miguel o "agarrado"? Não é um perdedor com saudosismo de muitos perante uma equipa arrasada, sempre à frente, mas que passou para trás, é história...

A demissão na hora certa reposiciona a narrativa pública, ajuda a separar o insucesso da imagem do partido (o problema foi a liderança, não o projeto). Mostra que o partido é capaz de se reposicionar como capaz de se autocorrigir e evoluir. Como pessoas que estão ao serviço da causa pública e não são "agarrados" a se servir. Isto é muito importante para não perder a relevância junto do eleitorado, especialmente quando se tem um partido a se assumir líder da oposição. Temos também um "Livre" a limpar eleitorado na esquerda na Madeira, não com o mesmo nome.

Nuno ao demitir-se, depois da derrota eleitoral, mostrou dignidade política e protegeu o seu partido nacional de entrar numa espiral de descrédito. Evitou que se criasse uma guerra interna prolongada, algo de que o partido de Paulo enferma há muito, colocou o interesse do partido acima do seu e isso tem peso aos olhos do da região e dos militantes. Portanto, temos um partido chinês com dois sistemas.

A demissão de um líder depois de um mau resultado não é sinal de fraqueza, é sinal de inteligência política e maturidade. Agora dirão que Miguel, o "agarrado", faz o mesmo, o problema é que ele ganha... e não importa como.

Paulo, se continua sempre com desaprovações está abrir espaço aos piores que ficam sempre e afasta a boa semente que poderia trazer melhor colheita ao partido. Se Paulo não sai, muitos militantes desligam-se ou afastam-se. Quando se chega ao fundo do poço, cavar mais não é solução, até porque para chegar aos antípodas, a cavar, tem pelo meio uma grande brasa que o vai eliminar.

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