Ribeira Brava: dois caminhos, uma decisão por tomar.


É importante referir que, a poucos meses das autárquicas, a vila da Ribeira Brava assiste ao desenrolar de um duelo silencioso, mas cheio de tensão interna, dentro do seio do PSD local. De um lado, Hélder Gomes, ex-chefe de gabinete do atual presidente Ricardo Nascimento. Do outro, Jorge Santos, atual vice-presidente da autarquia. Ambos aguardam a decisão do partido sobre quem avançará como candidato à presidência da câmara. Mas a disputa, mais do que política, parece revelar uma batalha por controlo e influência.

Hélder Gomes não é novo na casa. Entrou em 2017 para liderar o gabinete do presidente, cargo que desempenhou com reconhecida eficácia, imparcialidade e um raro sentido de serviço público. Homem de bastidores, mas com forte presença, tornou-se a figura de confiança para funcionários e munícipes, habituados a vê-lo como aquele que realmente resolvia os problemas. Seja na articulação com serviços internos, no apoio aos vereadores ou na ponte com entidades externas, Hélder era o elo que segurava muitas das pontas soltas. E fazia-o com firmeza, mas sempre com humildade. Não por acaso, há quem diga que ele chefiava, enquanto outros apenas assinavam.

Do outro lado, Jorge Santos. Um nome que ganhou espaço em 2021, quando o PSD, como parte do acordo para apoiar Ricardo Nascimento, impôs a sua nomeação como vice-presidente. Antes disso, Jorge fazia parte da equipa adversária de Nivalda Gonçalves, o que mostra que a coerência política por vezes tem pernas muito curtas. Descrito por muitos como uma boa pessoa, falta-lhe, segundo vozes internas, a firmeza e a assertividade que a liderança exige. Dizer “sim” a tudo é simpático, mas na política pode ser perigoso, sobretudo quando se começa a tropeçar em linhas ténues da legalidade. Um detalhe, claro, que muitos preferem não comentar.

O que está em causa não é apenas quem tem mais carisma ou simpatia. É quem tem estofo para liderar. E aí, a comparação começa a pender para um dos lados, pelo menos entre quem conhece os bastidores da câmara. Hélder conhece a estrutura como poucos, sabe como funcionam os processos, os serviços, os conflitos, e, mais importante, sabe como os resolver. Jorge, apesar de ocupar um cargo de destaque, continua a parecer um visitante num espaço onde outros fazem o trabalho pesado.

Ficou claro, nas Jornadas 2025, que a Ribeira Brava não vive apenas tempos de balanço: vive tempos de decisões, de escolhas, e de ambições (algumas mais assumidas do que outras).

Hélder Gomes, não se escondeu. Assumiu de forma frontal que o que disse pode ser lido como um “pré-manifesto”. Falou de ambição com naturalidade, fez questão de separar política de amizade e reforçou que está preparado para colocar a Ribeira Brava em primeiro lugar, como, aliás, já o fez no passado. Sem guião nem evasivas, transmitiu confiança e clareza. Pode-se concordar ou não com ele, mas não se pode dizer que deixou dúvidas.

Jorge Santos, por outro lado, optou pela sombra. Falou, sim, mas disse pouco. Preferiu refugiar-se no “balanço” do passado e manter-se num limbo estratégico, onde não confirma, não nega, nem se compromete. Com 12 anos de experiência, seria de esperar mais audácia e uma visão mais afirmativa para o futuro. Em vez disso, tivemos hesitação e uma tentativa algo forçada de recentrar o foco… onde lhe convinha.

É caso para dizer: quando uns falam de futuro, outros continuam agarrados ao passado. E se há coisa que a política exige, especialmente ao nível local, é clareza e coragem. Porque quem hesita, perde o comboio. E neste caso, parece que Hélder já está no próximo apeadeiro, enquanto Jorge ainda procura bilhete na bilheteira.

No entanto, o PSD, sob pressão, ainda não decidiu quem será o rosto do partido em 2025. Albuquerque, num esforço conciliador, pediu entendimento entre os dois. Mas há quem diga que o verdadeiro entrave chama-se Ricardo Nascimento. O mesmo que há uns anos estendeu a mão a Hélder, hoje parece determinado a apagá-lo do mapa político local. Diz-se à boca pequena que prefere alguém mais “manejável”. Alguém que lhe garanta tranquilidade… e continuidade. Não é todos os dias que se encontra alguém disposto a seguir instruções sem fazer perguntas.

A questão é simples: o futuro da Ribeira Brava será definido por quem está preparado para liderar, ou por quem está disposto a ser liderado?

A resposta chegará, mais cedo ou mais tarde, mas uma coisa é certa: os bastidores estão longe de estar calmos, e o silêncio que se tenta manter esconde uma guerra de nervos, egos e interesses. Que o PSD faça a sua escolha, mas que não se surpreenda com o resultado. Porque, como já se viu no passado, os que não sabem liderar acabam por ser liderados… por outros. Nem sempre os melhores.

Enviar um comentário

0 Comentários