Albuquerque redefine a pobreza, agora inclui quem não o aplaude.


Óh Albuquerque, deixa lá a pobreza em paz!

O ra bem, senhor Albuquerque, óh grande iluminado das serras e dos plenários, convém lembrar-te de uma coisinha básica, os critérios que norteiam o risco de pobreza não foram inventados por ti, nem vão ser. Portanto, baixa lá o tom imperial, que ainda não és imperador do mundo. Nem da rua ao lado.

Sim, é verdade, pode ser tentador acordar num dia de vento e decidir que "pobre" agora é quem tem menos de três canetas oferecidas por ti em época de eleições. Mas olha, não. O risco de pobreza é medido por critérios reais, científicos, esses chatos com números e percentagens e gente séria a trabalhar em gabinetes que não cheiram a campanha eleitoral.

Aliás, continua a dar canetas, sim senhor. De preferência com tinta azul. Porque quanto mais canetas distribuíres, mais o povo escreve. E lê. E pensa.

Portanto, Albuquerque, vamos lá com calma. Governa, mas não inventes. A pobreza é real, não é figurino de cartaz.

“O risco de pobreza”, diz ele com ar de quem descobriu o fogo ou, a luz do candeeiro da Rua dos Ferreiros, “é um conceito em aberto”.

Óh Albuquerque, ó sabichão do povoado, ó doutor em Estatística de Café… não és tu que decides isso, camarada. Por muito que te apeteça, por muito que a tua alma se sinta a reencarnação económica de Dom Afonso Henriques com uma calculadora na mão, os critérios de pobreza não foram inventados ontem, nem na tua última reunião de gabinete com a alucinada Paula Magarido.

Foram definidos por gente que sabe o que faz. Gente com números, gráficos e, espantem-se, noções de realidade.

Mas vá, continua a distribuir canetas, sim. Porque pode ser que, ao fim de tanto plástico promocional, o povo aprenda mesmo a escrever. E depois, aprenda também a ler. E quando aprenderem a ler, vão perceber o que é o limiar da pobreza, o rendimento mediano e o facto curioso de que… uma esferográfica com o teu nome não paga a conta da luz, nem o litro de leite a 1,39€.

E pior ainda, podem começar a pensar. E quando o povo pensa, escreve. E quando escreve, manda crónicas. E quando manda crónicas, aparece no Madeira Opina a perguntar…

Por isso, nobre régulo da Região, respira fundo, larga o cetro de plástico da papelaria e vai estudar um bocadinho de economia, mas da séria, não da que se escreve no verso de um panfleto. E lembra-te, quem dita os critérios de pobreza não és tu. Tu és só quem a distribui… em doses políticas e bem embaladas.

Enviar um comentário

0 Comentários