A Madeira, pérola do Atlântico, está transformada num parque temático da selfie e da sandália com meia. E no meio deste postal ilustrado está o nosso inefável Secretário do Turismo, Eduardo Jesus, homem de verbo pronto e dedo apontado, para todo o lado, menos para o espelho.
Recentemente, num momento digno de stand-up político, o Dr. Jesus, não confundir com o carpinteiro de Nazaré, esse lavava as mãos por razões higiénicas, não políticas, decidiu que a culpa do descontrolo turístico não é dele, Deus nos livre! É das câmaras municipais, essas malandras, que não andam a fiscalizar turistas como deviam. É isso mesmo. O senhor Secretário, responsável máximo pelo turismo, turismo esse que está a rebentar pelas costuras, que arrasa trilhos, entope estradas e sufoca residentes, diz que a culpa é… dos autarcas.
Notável! Uma verdadeira aparição de responsabilidade celestial.
Ora, vamos lá fazer contas, o salário de um Secretário Regional ronda os 5.000 euros mensais. Nada mau para alguém cuja principal função, pelos vistos, é balançar-se em miradouros, inaugurar rotas que já existiam, sorrir para câmaras fotográficas (e câmaras de televisão), e, nos tempos livres, apontar o dedo a quem está no terreno com um terço do orçamento e metade do pessoal. A função executiva? Essa é facultativa. Delegável. Preferencialmente "terceirizável".
É que fiscalizar turistas é uma ideia genial, quase tão genial como ensinar gaivotas a separar o lixo. Quem é que nunca sonhou ver um fiscal da câmara a correr atrás de um turista alemão para o impedir de se sentar numa levada? Ou uma brigada municipal com binóculos a contar quantos “influencers” se empoleiram no miradouro da Ponta de São Lourenço?
Mas não sejamos injustos. O senhor Jesus faz o que pode, dentro do possível, claro. Organiza umas conferências, promove a Madeira em feiras internacionais, e depois, quando os turistas vêm em enxame, como gafanhotos com mochila da Decathlon, declara-se surpreendido. “Não esperávamos tanto sucesso.” É, de facto, dramático quando o plano corre bem demais.
Se o turismo da Madeira está em ebulição, se os trilhos se tornaram procissões, e se há mais turistas do que lugares para estacionar um pensamento, talvez seja de repensar o modelo. Ou, pelo menos, de recordar ao senhor Secretário que o seu salário (pago com o dinheiro dos nossos impostos) é para assumir responsabilidades.
E agora, com licença. Vou ver se há um fiscal da câmara que me possa multar por estar a pensar mal do governo.
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