Caro Miguel Albuquerque,
P ermita-me, com todo o respeito que a sua presidência ainda tenta inspirar, felicitar-lhe pela postura firme, quase heróica, digna de um filme de ação de baixo orçamento, quando disse: "Não me deixo chantagear por ninguém." Que coragem! Que valentia! Só faltava o vento a bater na sua capa de super-herói e o hino da Madeira a tocar em fundo.
A verdade é que os motoristas dos transportes públicos, esses ousados trabalhadores que têm a mania de querer salários justos e condições decentes, decidiram fazer uma greve de dois dias. E o senhor, em vez de se sentar à mesa para ouvir as suas queixas (talvez entre um copo de vinho e outro), preferiu a resposta clássica: "chantagem". Muito conveniente. Quando o povo levanta a voz, é chantagem; quando o governo fecha os ouvidos, é liderança.
Mas compreende-se: afinal, os motoristas não têm o mesmo charme que os carros de alta cilindrada que enchem agora as estradas da nossa querida ilha. A Madeira, essa pérola do Atlântico, transformada num stand de automóveis ao ar livre, tudo graças à sua política de abrir as portas a mais viaturas como se fossem turistas de cruzeiro. Agora temos carros em fila desde o Pico do Areeiro até ao Mercado dos Lavradores. Uma bênção para o setor automóvel, uma desgraça para quem precisa de trabalhar ao volante.
Os motoristas, esses pobres peões no seu tabuleiro de xadrez, são agora obrigados a navegar um Tetris de SUV's, tuk-tuks, trotinetes, e autocarros turísticos conduzidos como se estivessem em ralis. O risco que correm nas estradas é tamanho que, se houvesse um prémio para "Sobrevivência Urbana", os motoristas madeirenses ganhavam todos os anos.
Mas claro, para si, é tudo chantagem.
Chantagem, senhor Presidente, é fingir que a mobilidade sustentável se faz com mais carros. É prometer qualidade de vida enquanto se entope as ruas da ilha com motores e buzinas. É dizer que se quer apoiar os trabalhadores enquanto se ignora a realidade no terreno. Isso sim, cheira a chantagem, e das más.
Um utente dos transportes públicos. Força Senhores motoristas, o povo da madeira está com todos vocês e compreende muito bem a vossa greve.
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