A Praia Formosa. Para os funchalenses, não é só uma praia. É um estado de espírito, um santuário, uma espécie de Vaticano com seixos pretos e milho frito. É o local onde se vai para curar desgostos, fingir que se está a fazer exercício no passeio marítimo, ou simplesmente ouvir a vida alheia no bar do Costeira.
A Praia Formosa é democraticamente acessível, tanto serve para banhos de sol como para sessões de “telenovela ao vivo” com diálogos apimentados entre banhistas sobre se a água está fria ou “é da corrente”.
E que não se atreva alguém, político, investidor ou alma iluminada, a sugerir que vai “requalificar” aquilo. Requalificar a Praia Formosa?! Era só o que faltava. Mexer na Praia Formosa sem autorização divina é, basicamente, um convite aberto à Revolta dos Funchalenses.
Estamos a falar de um povo que aguenta subidas de impostos, filas no hospital e buracos na estrada… mas mexer na Praia Formosa? Isso não. Isso é o limite. Mexer ali é tocar no coração da identidade madeirense. Pode até haver quem não saiba o nome do Presidente da República, mas sabe exatamente em que ângulo o sol bate no calhau às 16h42 em agosto.
Se alguém quiser organizar um evento, uma feira, um festival, um mega resort de luxo ou um retiro espiritual... que vá para o cimo do Pico do Areeiro. Mas que deixe a Formosa em paz, com os seus calhaus sagrados, as suas cervejas Coral mal geladas e as suas toalhas estrategicamente estendidas desde as 8 da manhã por pensionistas em modo de ocupação militar.
Porque a Praia Formosa não é só praia.
É território soberano.
É quase independente.
É... Madeira em estado puro.
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