À s vezes parece que vivemos num país de terceiro mundo, onde as entidades competentes estão a dormir — a frase, que poderia muito bem ser uma sátira amarga à realidade nacional, é na verdade uma constatação crua da Associação Ajuda a Alimentar Cães, após mais um resgate: um cão, uma gata e cinco filhotes de gato deixados ao abandono, como se fossem lixo.
E não, infelizmente não é um caso isolado. Do mesmo local, já tinham sido resgatados anteriormente uma cadela e toda uma ninhada. O que mudou desde então? Absolutamente nada. A impunidade continua intacta, as autoridades continuam ausentes e a justiça, essa, continua a tropeçar em burocracias até perder de vista o rasto da dignidade.
A associação, com coragem e perseverança, não desarma: "Voltaremos a entrar e a resgatar as vezes que forem necessárias, porque infelizmente a justiça é muito lenta e, na maioria das vezes, não chega." E quem os pode censurar? Quando o Estado se demite, são as mãos voluntárias que salvam vidas.
Enquanto isso, Miguel Albuquerque — esse grande promotor da imagem de postal ilustrado — tenta vender a Madeira como um paraíso turístico. Afinal, nada como vender ilhas de sonho enquanto se varre para debaixo do tapete a Madeira real, onde se resgatam animais de condições miseráveis, onde há hotéis de luxo sem sistema de esgotos ambientais, e onde os prémios de turismo parecem ser encomendados no mesmo catálogo que os troféus de participação do infantário.
Ironia das ironias: vendem-nos uma Madeira dourada enquanto escondem uma realidade podre. Mas claro, desde que a fachada brilhe, quem quer saber do cheiro a esgoto, não é? (Um exemplo: link)
Por isso, os nossos sinceros parabéns à Associação Ajuda a Alimentar Cães, por não fechar os olhos, por não se calar, por não esperar sentada que a justiça acorde do coma profundo em que parece estar. São eles que verdadeiramente põem mãos à obra, sem medalhas nem palcos, apenas com amor pelos que não têm voz.
Enquanto uns se esforçam por maquilhar a ilha, há quem esteja a limpá-la — literalmente — da miséria que fingem não ver.
0 Comentários
Agradecemos a sua participação. Volte sempre.